quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Elaboração de uma crítica à teoria da sobrevivência do mais apto

Influenciado pela publicação de Thomas R. Malthus, "An Essay on the Principle of Population", Charles Darwin estruturou o seu livro "On the Origin of Species" (1859), baseando-se no conceito de sobrevivência do mais apto, explicando como se dava a evolução das espécies através da seleção natural. Nada contra as ideias inovadoras do biólogo inglês, que compuseram a transição da tradicional explicação teológica da origem da vida, para incorporar a científica à cultura ocidental. O problema é pensar nessa teoria como um mandamento ou orientação geral ao comportamento da espécie humana.


A sobrevivência do mais apto, num cenário de competição pela sobrevivência diante de recursos escassos explica como os indivíduos mais aptos conseguem se adaptar às adversidades, garantindo a replicação de seu material genético. Em termos biológicos, essa teoria de como houve a diferenciação entre as espécies com ancestral comum ultrapassa a concepção criacionista, e traz para o plano científico aquilo que antes pertencia ao campo metafísico/religioso.

Entretanto, em termos sociais, ou sócio-políticos, empregar essa teoria nas sociedades de competição capitalista desumaniza os processos de integração e inserção sociais. Olhar para os "mais fracos" como se o seu estado de miséria fosse uma inevitável consequência biológica, inclusive com a noção de que o seu conjunto genético teria influenciado o seu status, é ignorar que a dinâmica de convivência social não é regida por leis biológicas. Não existem apenas as chamadas "leis naturais" ou "racionais" para explicar o comportamento humano - nesse sentido, ver a crítica à teoria das expectativas racionais de Friedman, ou mesmo as concepções sobre a imprevisibilidade dos mercados e do comportamento econômico, elaboradas 40 anos antes por John Maynard Keynes; o ser humano comporta-se também de maneira imprevisível, emocional, instável.

Os socialmente marginalizados pelo sistema de produção, os miseráveis, os despojados... são sujeitos de uma realidade social, e não natural. O sistema de produção econômico atual não é uma consequência de leis da natureza, senão a opção adotada por aqueles que participaram na tomada de decisão de como organizar a sociedade - atendendo aos seus próprios interesses, durante o curso da História.

Até mesmo o liberalismo econômico, que floreceu se aproveitando dessa leitura do evolucionismo, teve que se readaptar à conjuntura sócio-econômica do século XX, dando origem ao Estado de Bem-estar social. Mesmo se observadas as teorias da Administração contemporâneas, pode-se constatar que as empresas se beneficiam de um elevado grau de comprometimento com o bem-estar e a melhoria das condições de trabalho; além disso, os trabalhos sociais por elas desenvolvidos tem por objetivo aumentar a confiança dos cidadãos no modelo social atualmente adotado, melhorando a convivência humana: isso demonstra como a cooperação é um fator interno e externo de sucesso da gestão empresarial.

Imaginar que os indivíduos são absolutamente responsáveis pelo seu destino é reconhecer que o ser humano faz suas próprias escolhas - sendo esse um componente importante para o "esclarecimento". Mas abandonar os indivíduos a sua própria sorte, sem os sentimentos de solidariedade e fraternidade, significa, a um só tempo, a coisificação do ser humano e a desumanização da espécie.