segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Receita brasileira no World Economic Forum 2007

Às vezes, o novo se torna insólito... E nada mais extraordinário do que ver um brasileiro, de origens humildes, com seu passado de sindicalista, falando em frente à cúpula capitalista mundial: Lula em Davos 2007. Devo confessar que fiquei pasmo, não pelas palavras do orador convidado, mas pelas palavras iniciais do presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab. De acordo com esse economista, o Brasil está dando certo: inseriu-se na economia global, apresenta crescimento econômico e social, contornou déficits estatais, ajustou a balança comercial (com superávit) e por aí vai a lista...

Isso tudo é mais do que uma constatação. É uma afirmação clara de que, aos olhos dos dirigentes da economia mundial, o Brasil agora faz parte da economia global. Antes, era apenas um grande devedor (o "fantasma" da oitava economia do mundo, que nunca iria a lado nenhum); era um país desacreditado, parafraseando Charles De Gaulle. E, ao que tudo indica (IDH e outros indicadores sócio-econômicos e financeiros), os riscos de se investir no Brasil baixaram a níveis nunca antes vistos!


O fato é que, a despeito do que dizem por aí, a América Latina está (sim!) dando uma "virada" positiva; as parcerias e os negócios comerciais e industriais que se estabeleceram entre os países pobres da economia-mundo capitalista (o grupo G-20) estão forçando os países centrais a ouvir o Sul Global. Entretanto, que voz é esta que o Sul tem falado? Será a vox populi (do povo) ou a vox dei (do governante)?
  • «Há algo de podre no Reino da Dinamarca» ("Hamlet", W. Shakespare)
Se existe uma frase que pode definir bem esse cenário é aquela acima. Não há nada de enigmático na atual (e favorável) situação econômica do brasileira - isso tudo era até esperado. O Brasil conseguiu dar um salto econômico porque cumpriu os requisitos do Consenso de Washington, e avançou na área social porque executou um plano de redistribuição de renda (mínima), capaz de movimentar o mercado interno - sem ser preciso interferir diretamente na economia, isto é, sem que a República precisasse recorrer à mecanismos e gatilhos financeiros (taxas de câmbio, taxas de juros e etc). Trocando em miúdos, garantiu-se o laissez faire à custa do fim do endividamento estatal (o famigerado "custo Brasil").

Entretanto (porque ser otimista demais é tolice), deve-se dizer que essa situação não é sustentável, por duas razões óbvias. A primeira delas é o que todo mundo já sabe: os planos assistencialistas (chamados pela mídia de "populistas") não vão durar para sempre; eles dependem de vontade política e a única forma de financiá-los é através de impostos (tributos que a minoria mais rica não quer pagar, sendo eles desviados de sua destinação ou não, como a CPMF). A segunda é estrutural: os novos atores da economia global (Brasil, Rússia, Índia e China - BRIC) estão se beneficiando do comércio mundial e reproduzindo a exploração capitalista contra seus "irmãos mais pobres"; é a "exploração vinda do Sul", com a mesma receita que era empregada pelos países do Norte Global.

Tudo isso para dizer que, infelizmente, esse crescimento não tem a força de se expandir por muito tempo, porque ele depende da bolha especulativa na qual a economia mundial está inserida hoje.

Veja o vídeo abaixo e tire suas dúvidas.

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