A poucos instantes, fiz uma pesquisa no Google com o seguinte critério: "Mulheres de grande destaque". O resultado não poderia ter sido outro: a exposição feminina no recente carnaval brasileiro, além de alguns anúncios de pornografia e serviços de acompanhamento/prostituição. Por curiosidade, mudei o critério da pesquisa para "Homens de grande destaque": resultados em ciência política, filosofia e sociologia não faltaram. O que pensar?
Primeiro. Pensar que a vulgarização da imagem-símbolo feminina ainda é a praxe brasileira. Neste País de vocação turística, a banalização do sexo-produto continua a influenciar o papel social das mulheres, colocadas como mercadoria de consumo e de fácil acesso. Ainda, deve-se evidenciar que existe toda uma indústria - altamente lucrativa - que explora essa imagem-símbolo: da cerveja ao automóvel, um padrão cínico estabelece quais são os critérios de validação quer da beleza, quer da posição social da fêmea homo sapiens sapiens (e é isto o que ela ali representa: uma fêmea, pronta ao consumo sexual).
Segundo. Concluir que esse papel secundário criado por uma sociedade sexista condiciona toda uma geração de mulheres ao estigma da submissão masculina. Se aos machos cabe o controle das instituições político-sociais, às mulheres cabem as profissões subalternas e com remuneração mais baixa, pelo simples fato de pertencerem ao gênero degradado. Essa degradação ocorre em nível lingüístico e, por que não dizer, discursivo - não só ao nível das expressões popularmente conhecidas, mas, principalmente, na construção de um espaço de exclusão ou não-participativo, no qual o poder masculino impera quase que de forma absoluta.
Por que não encontrei os nomes de Marilena Chauí, Hannah Arendt, Anita Garibaldi, ou mesmo Cleópatra? Em outras palavras, se à mulher, antes, competia o serviço doméstico e a "educação" dos filhos (com a perpetuação desse mesmo modelo), hoje, compete-lhe um papel subalterno de submissão, quer no mundo do trabalho, quer nos meios de comunicação.
Que fazer?
É um verdadeiro estigma. Uma marca. Por que, por mais bem resolvida que seja uma mulher, ela vai sempre ter de lidar, de uma maneira ou de outra, com um "a priori histórico" de sua condição e de seu papel na sociedade. Não sou feminista. E acredito que o feminismo não passe do extremismo no verso da moeda e do resultado de um profundo ressentimento niilista. Enquanto mulher, digo que o maior desafio hoje parece ser a busca de um equilíbrio entre uma postura mais incisiva e forte na sociedade, a chamada atitude de "mulher-fálica" (venha aí a psicanálise nos acudir e dizer da possibilidade deste termo!) o que já indica a estranhez com que esse comportamento é recebido pela sociedade, e a manutenção de uma feminilidade (o uso de todos os encantos do sexo feminino) a que toda mulher tem direito, sem que seu comportamento seja compreendido como "sou promíscua" ou "me domine". Só acrescentando, no hall das mulheres de destaque, o nome de Virgínia Wolf, que escreveu precisamente sobre este tema no "Status intelectual da mulher". Valeu pelo texto!
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