domingo, 23 de setembro de 2007

A "polititica" no Brasil: o "toma lá, dá cá" entre as classes.

A expressão "democracia de baixa intensidade" foi uma daquelas talhadas e divulgadas na língua portuguesa pelo intelectual e professor Doutor Boaventura de Sousa Santos, professor das universidades de Coimbra (PT) e Wisconsin-Madison (USA). Em uma de suas mais recentes publicações, Boaventura descreve o que vem a ser uma democracia: um processo político de des-construção e re-construção constante, de alternância no poder e redefinição dos interesses societais. Isso faz-me pensar no Brasil...

A História da República é formada por períodos alternados de ditadura que compõem, em sua totalidade, quase todos os anos de sua duração. É interessante observar, entretanto, que o nascimento da República deu-se através de um golpe militar; desde então, todos os governos ditatoriais foram coordenados direta ou indiretamente por generais. O que isso vem demonstrar?


Vem demonstrar que pode existir uma explicação sociológica aos fenômenos do autoritarismo, corrupção e impunidade na República brasileira. Essa "tradição" está ligada ao surgimento recíproco da classe média e das forças armadas no Brasil. Bem, uma das teses que podem ser levantadas é a de que a formação da classe média brasileira está diretamente ligada ao surgimento das autoridades administrativas (os chamados coronéis), responsáveis pela manutenção da ordem e defesa da propriedade privada no Brasil. Quem são os oficiais das forças armadas brasileiras? Quem chega ao posto de general, almirante ou brigadeiro? Hum... deixe-me pensar... É bem natural que um exame generalizado - que descarte casos fortuitos - indique a origem abastada das pessoas que integram esses postos. Essas pessoas ajudaram a compor a classe média "aristocrática" brasileira que, tendo perdido a influência e o poder econômico nas últimas décadas, ainda não perdeu o poder de influência política.

A última grande transição brasileira explica esse fenômeno: a redemocratização da política brasileira acompanhou uma mudança à escala global na forma de organização do Estado (um shift do Welfare state ao Neoliberalismo). O esvaziamento das funções e do papel do Estado e seu conveniente afastamento da esfera econômica estão intimamente ligado com o surgimento de um novo tipo de classe média no Brasil: os chamados "profissionais liberais", que provém majoritariamente dessa faixa social. Essa re-estruturação sócio-econômica está indissociavelmente ligada à continuidade (e aumento!!) da corrupção tupiniquim: os chamados "crimes de colarinho branco" são praticados por "técnicos em corrupção", que anseiam por encontrar brechas legais ou fundar novos grandes esquemas que lhes possibilitem aplicar o próximo golpe ou promover um novo "caixa dois" e etc. etc. etc.

O que isso quer dizer e aonde quero chegar? Ora! Escritores, pensadores, intelectuais e estudantes de todo naipe e orientação ideológica degladiam-se diariamente em blogs, jornais, revistas e salas de aula tentando explicar o inexplicável: qual é o problema com a política nacional. Bem, amigos, o Brasil é um país que vive uma "democracia de baixa intensidade". Significa dizer que os níveis de participação popular nas diretrizes governamentais é mínima e, olhando o papel do "povão" (os pobres) na "marcha da insensatez" é nula [expressão de José Leite Mesquita - blog do Mesquita].

O que me causa indignação é o bordão que atribui a crise política aos pobres: "pobre não sabe votar" e etc. Na realidade, a única participação dos pobres no poder ocorre no momento do pleito; tudo o que resta do controle democrático reside nas mãos dos profissionais liberais e ocupantes da Função Judiciária. Assim, a atribuição da culpa pelo estado das coisas deve ser endereçada de outra forma:
1) a classe média brasileira não faz outra coisa senão o seu papel histórico, que é fugir da pobreza custe o que custar e, se for preciso, participar na corrupção; essa participação pode ser ativa, passiva ou omissiva;

2) a classe média olha para os cargos públicos como um trainee olha a uma vaga de trabalho; há pouco ou quase nulo compromisso com a coisa pública - as funções públicas representam uma fonte de rendimentos com a estabilidade que foi turbada do trabalhador "comum";

3) uma vez no poder, seduzida pelo poder; a classe média brasileira locupleta-se, direta ou indiretamente do estado das coisas, porque para que haja uma grande mudança no cenário geral brasileiro, será preciso diminuir a concentração de riqueza; e a única coisa em que concordam ricos e intermediários é em não repartir "o bolo";

4) por fim, "é preciso" manter a estrutura escravocrata da sociedade brasileira; a exploração do trabalho é uma contrapartida assegurada às classes intermédias da população brasileira, que desfrutam do trabalho mal remunerado e serviçal da mesma forma como os políticos corruptos servem-se dos cofres do erário.

E, enquanto isso, a única salvação do povo brasileiro é o assistencialismo getulhista; é o bolsa família e o bolsa escola do "Sassá Mutema" que estiver no exercício do Poder.

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