sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Bispo de Limoeiro do Norte (CE), dom Manuel Edmilson da Cruz recusa comenda no Senado

D. Manuel Edmilson da Cruz discursa no Senado, recusando o recebimento de uma homenagem, logo após a IMORAL aprovação do aumento do salário dos parlamentares - num país aonde milhões de aposentados, mendigos e trabalhadores passam fome.

Poucas são as oportunidades verdadeiramente democráticas como esta. Não são os grupos de pressão nem os "movimentos sociais" da demagogia brasileira: é a voz do cidadão.

Vale a pena assistir. Divulgue!


sábado, 15 de janeiro de 2011

Chove

Engraçado como um fenômeno natural qualquer pode ter repercussões diferentes, conforme se vai de um lado para outro. Aqui no Brasil, fica mais fácil observar isso, devido às dimensões continentais do País e à língua homogênea que facilita a troca de informações. A chuva, por exemplo, é uma benção no sertão nordestino, mas uma calamidade nas capitais (no litoral).


Na perspectiva urbana, levando-se em consideração que a maioria das capitais brasileiras encontra-se ou no litoral, ou à beira de algum rio navegável, a precipitação pluviométrica sempre traz consigo o risco de inundações, alagamentos e tudo de prejudicial à vida urbana - dos engarrafamentos, às famílias desalojadas de suas residências. Ali, a chuva é vilã. Os recentes deslizamentos no Estado do Rio de Janeiro, o transbordo de afluentes de rios no Estado de São Paulo, e problemas similares nas outras capitais são exemplos desses transtornos causados pelas chuvas. Mas será mesmo a chuva a origem desses transtornos? Não seria o uso desordenado do solo, a ocupação indiscriminada de áreas sujeitas à proteção ambiental e a falta tanto de políticas públicas e sociais, quanto de conscientização das populações no que respeita à preservação do meio ambiente social e natural?

Já na perspectiva do sertanejo (categoria em extinção por força do êxodo rural, causado pela "política da cerca/seca" e pela mecanização da agricultura), a situação é bem diferente. Essas populações vem sendo removidas do litoral desde os tempos da colonização, enfrentando hoje novos desafios, como o trazido pela fruticultura, pela agroindústria e pela expansão das grandes cidades e da transformação das zonas de pesca artesanal em pesca industrial. Para esse povo, que ocupa as terras improdutivas do semi-árido brasileiro, a chuva é uma benção divina, sinal de que a vida pode continuar, de que "Deus proverá". Nesse aspecto, essa população sertaneja (e com ela, toda a população do meio rural) sabe que a natureza não é um obstáculo, um desafio, mas um ambiente no qual o homem, através de uma espécie de parceria, consegue o seu sustento - em que pesem as adversidades e a extenuante labuta, através da agricultura familiar e auto-sustentável.

Pois resta saber quem tem razão, diante dessa divergência, qual seja, de saber se a chuva é uma benção ou um castigo, de origem divina ou fortúita. Caso em que o bom observador, sem pressa, deve refletir, para entender "aonde" está ou "se" existe um problema.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O "problema" da preservação cultural e histórica brasileira

Tradicionalmente, percorrer a História do Brasil é uma investigação árdua, visto que o resultado da pesquisa será quase sempre a "história oficial". Há muito se discutem as fontes históricas, pois a maioria é fruto da narrativa dos grupos dominantes, que conseguem preservar seu ponto de vista, aquele considerado mais "apropriado" - como representação simbólica e justificação do Poder social. Esse é o principal fator nas discussões acerca do problema brasileiro - sendo, por si, um problema transversal.

Como ficou sugerido acima, existe uma versão mais "apropriada" - termo escolhido propositadamente, para demonstrar que existe uma real apropriação (apontando para um sentido jurídico, pois que está ligada à noção de propriedade). Essa apropriação narrativa é um artifício utilizado desde sempre, tendo em vista que as obras escritas tendem à manutenção dos regimes nos quais são produzidas. É claro que sempre existem narrativas marginais, guardadas principalmente pela tradição oral, que é culturalmente marginalizada pelo mainstream midiático. Exemplos dessa narrativa marginal podem ser encontrados no Nordeste brasileiro, por exemplo, na literatura de cordel, nos ditados populares, nos mitos e lendas que ainda sobrevivem (a muito custo!) na cultura popular dos setores mais periféricos desta Região (como o sertão). Essa cultura marginal ainda sobrevive, em que pese a crescente e invencível força dos grandes meios de comunicação.


Entretanto, não se deve pensar que se trata apenas de um problema que tem origem na força econômica da mídia hegemônica, ou que este problema está ligado apenas aos interesses das elites sociais dominantes. Tranta-se de uma dificuldade inerente à preservação de valores, inerente aos movimentos internos de organização dos sistemas sociais. Uma das observações que podem ser feitas a esse respeito remete a discussão da "desmasculinização" das sociedades ocidentais; o fim da objetividade e a inserção da subjetividade nas relações sociais, através da conquista de novos direitos aos grupos sociais marginalizados (mulheres, minorias étnicas, homossexuais, imigrantes e assim por diante) foram fatores que influenciaram não apenas o Brasil, mas quase todos os países influenciados pela colonização européia. Essas transformações, como é evidente, não ocorreram de forma similar em todos os lados, nem se assentaram indelével e pacificamente em todos os cantos, mas tem sido uma força constante e inexorável que não se pode ovildar.

Dessa maneira, o "problema" da preservação cultural brasileira é um falso problema, na medida em que a cultura é exatamente aquilo que se cultiva. Mesmo que doa perceber o quanto a maioria dessa "nova cultura" é empurrada goela-abaixo à população nacional, o somatório dos fatores acima descritos remontam ao redemoinho melvilleniano que poderia ter engolido Moby Dick, que findará por engolir à cultura brasileira (ela mesma, de certa forma, inventada, produzida, arquitetada). Porém, farão falta as histórias de Lampião e Maria Bonita, do Boi-tatá e ou do Saci Pererê que, de certeza, só por milagre serão salva às gerações futuras.

Fundamentalmente, o mesmo problema recai sobre a História. A apropriação e determinação das narrativas "verdadeiras" dá-se basicamente da mesma forma como acontece com a narrativa cultural, só que com efeitos mais nefastos e prejuciais, pois interferem na organização política da Sociedade. Elas são cruciais porque interferem diretamente na interpretação de momentos históricos que somente a muito custo são recuperados pelos acadêmicos que se debruçam sobre certos períodos e fases que compõem as épocas da política nacional ou falam do viver de determinadas gerações. Um exemplo disso foi a reconstrução da narrativa referente ao período da ditadura militar 1964-1988 (finda com a promulgação da atual Constituição Democrática), que começou nos anos 1980's e durou até o final dos anos 1990's. Outro exemplo, mais recente, é o da suposta "fase de ouro" da democracia, que elegeu um governo supostamente socialista, inciada no Governo Lula, e que começa a ser desmanchada através dos escândalos revelados pelo Wikileaks (http://213.251.145.96/) - nas comunicações travadas entre as embaixadas norte-americana e brasileira, nas quais ficam claras as intenções de dominação político-econômica brasileira em relação aos vizinhos latino-americanos.

Francamente, fica difícil seguir em frente, consumindo o material das empresas monopolistas que se apropriaram da comunicação social brasileira, que silenciam todas as vezes que seus interesses econômicos são garantidos pelos governantes da nação. Mas outra conclusão não seria possível, tendo em vista que o cão minimamente domesticado sabe que não deve morder a mão que o alimenta (fato que me remete a lembranças pouco agradáveis, da falta de comprometimento acadêmico com a verdadeira crítica social, em troca de migalhas que sustentam pesquisas pouco confiáveis... mas a força das ruas e o protesto dos trabalhadores revelam o que os hipócritas engravatados e os gabinetes desejam esconder e ignorar... óh pá!). A internet e seus canais independentes de informação parecem ser a única saída e solução...