quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Elaboração de uma crítica à teoria da sobrevivência do mais apto

Influenciado pela publicação de Thomas R. Malthus, "An Essay on the Principle of Population", Charles Darwin estruturou o seu livro "On the Origin of Species" (1859), baseando-se no conceito de sobrevivência do mais apto, explicando como se dava a evolução das espécies através da seleção natural. Nada contra as ideias inovadoras do biólogo inglês, que compuseram a transição da tradicional explicação teológica da origem da vida, para incorporar a científica à cultura ocidental. O problema é pensar nessa teoria como um mandamento ou orientação geral ao comportamento da espécie humana.


A sobrevivência do mais apto, num cenário de competição pela sobrevivência diante de recursos escassos explica como os indivíduos mais aptos conseguem se adaptar às adversidades, garantindo a replicação de seu material genético. Em termos biológicos, essa teoria de como houve a diferenciação entre as espécies com ancestral comum ultrapassa a concepção criacionista, e traz para o plano científico aquilo que antes pertencia ao campo metafísico/religioso.

Entretanto, em termos sociais, ou sócio-políticos, empregar essa teoria nas sociedades de competição capitalista desumaniza os processos de integração e inserção sociais. Olhar para os "mais fracos" como se o seu estado de miséria fosse uma inevitável consequência biológica, inclusive com a noção de que o seu conjunto genético teria influenciado o seu status, é ignorar que a dinâmica de convivência social não é regida por leis biológicas. Não existem apenas as chamadas "leis naturais" ou "racionais" para explicar o comportamento humano - nesse sentido, ver a crítica à teoria das expectativas racionais de Friedman, ou mesmo as concepções sobre a imprevisibilidade dos mercados e do comportamento econômico, elaboradas 40 anos antes por John Maynard Keynes; o ser humano comporta-se também de maneira imprevisível, emocional, instável.

Os socialmente marginalizados pelo sistema de produção, os miseráveis, os despojados... são sujeitos de uma realidade social, e não natural. O sistema de produção econômico atual não é uma consequência de leis da natureza, senão a opção adotada por aqueles que participaram na tomada de decisão de como organizar a sociedade - atendendo aos seus próprios interesses, durante o curso da História.

Até mesmo o liberalismo econômico, que floreceu se aproveitando dessa leitura do evolucionismo, teve que se readaptar à conjuntura sócio-econômica do século XX, dando origem ao Estado de Bem-estar social. Mesmo se observadas as teorias da Administração contemporâneas, pode-se constatar que as empresas se beneficiam de um elevado grau de comprometimento com o bem-estar e a melhoria das condições de trabalho; além disso, os trabalhos sociais por elas desenvolvidos tem por objetivo aumentar a confiança dos cidadãos no modelo social atualmente adotado, melhorando a convivência humana: isso demonstra como a cooperação é um fator interno e externo de sucesso da gestão empresarial.

Imaginar que os indivíduos são absolutamente responsáveis pelo seu destino é reconhecer que o ser humano faz suas próprias escolhas - sendo esse um componente importante para o "esclarecimento". Mas abandonar os indivíduos a sua própria sorte, sem os sentimentos de solidariedade e fraternidade, significa, a um só tempo, a coisificação do ser humano e a desumanização da espécie.

sábado, 12 de março de 2011

Pois que venha a onda

Nos acostumamos com a ideia de que controlamos tudo: o nosso tempo, a ordem social, o semelhante. Imaginamos que tudo o que existe está a nossa disposição: os recursos naturais, o cosmos, a vida alheia. Sempre nos ocupamos com essa obsessão do domínio sobre o real, e nos iludimos e temos espanto quando a realidade dá-nos notícia de seu curso próprio, de suas forças inerentes e inexoráveis, imponderáveis.


Vivemos a era do desperdício e do exagero. Lançamos milhões de toneladas de lixo no ar, com nossos veículos potentes e confortáveis. Poluímos os recursos hídricos com esgoto doméstico e industrial, além de consumirmos água para além de nossas necessidades vitais e básicas. Desperdiçamos comida suficiente para alimentar toda a humanidade. Consumimos o solo e o subsolo como se esses recursos fossem ilimitados. Sujamos até o espaço sideral, com lixo das nossas andanças ultraterrenas, lançando espaçonaves e detritos para além dos limites terrestres. E pensamos que todas essas atitudes e feitos estão sob nosso controle.

Ledo engano. Existem limites e um equilíbrio inerentes a nossa existência. Somos um acaso, uma fatalidade e um infortúnio no Universo que nos cerca, sendo mesmo necessário tormarmos consciência dessa situação frágil que é a nossa existência. É preciso controlar essa ânsia e essa fé no progresso, porque para além da Ciência está a nossa incapacidade de compreender todos os fatores e variáveis que condicionam a nossa sobrevivência.

Isso não quer dizer que tenhamos que fazer uma apelo ao sobrenatural. Nem que toda a técnica é desnecessária ou somente prejudicial aos seres humanos. Essas são, também, conclusões precipitadas. O que importa é saber que somos visitantes, ou uma improbabilidade que "deu certo", numa equação bem mais complicada do que a nossa "vã filosofia" pode imaginar. Ser e estar são verbos a serem ainda descobertos pela humanidade, que precisa aprender a controlar não a natureza, mas os seus impulsos e a sua impetuosidade.

Não podemos prever todos fenômenos, pois eles existem independentemente de nós. Temos que compreender que a vida existe como uma acontecimento inesperado, voltando nosso olhar para o imprevisível, ao caos que, direta ou indiretamente, condiciona as nossas vidas, preparados para o pior e dispostos a manter viva a chama da esperança. O que não significa que podemos ocupar todos os espaços disponíveis, mas apenas o que é vital, razoável e possível.

Na condição de visitantes, temos que cuidar desta nave espacial que ocupamos, porque é a nossa única morada viável. Não existe outro lugar disponível para nossa existência, nem nossa tecnologia é suficiente para a ocupação de outro lugar. Se não soubermos utilizar os recursos que estão a nossa disposição, compartilhando-os, melhor é que venham várias e todas as ondas, e nos lavem da face da Terra, como uma sujeira indesejável ou um fungo malicioso que insiste em destruir este habitáculo.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Competitividade no local de trabalho: como evitar os maus colegas - por Huppert Cunha

"A competitividade atingiu em cheio o Brasil, na última década. Até as regiões Norte e Nordeste, pouco habituadas com investimento e crescimento econômico sentem a pressão do mercado sobre as organizações sociais patriarcais e clientelistas das culturas locais. É nesse ambiente que os menos qualificados e incompetentes (acostumados com o antigo modelo) podem atrapalhar a ascensão dos novos profissionais que despontam no mercado.


"Esses maus colegas de trabalho, ao invés de contribuírem com sua cota-parte no desenvolvimento da empresa, lutam por suas posições da chamada de "zona de conforto". Incapazes de ceder às mudanças, utilizaram a competitividade para praticar a chamada "concorrência desleal", através de diversas artimanhas como, por exemplo: ataques pessoais, mentira (levada por meio da vulgar "fofoca"), alianças estratégicas (formação de panelinhas) e assim por diante.

"Diante disso, como evitar os maus colegas?

"A primeira coisa a fazer é concentrar-se no trabalho. Isso porque manter o foco no trabalho é essencial e mesmo fundamental na consecução das metas pré-definidas. Além do mais, enquanto o seu colega tenta puxar seu tapete, você já está em outra zona, longe do raio de alcance desse tipo de gente.

"A segunda medida é evitar as panelinhas. Ser sociável é essencial, mas não submeter-se ao convívio dos não-preparados é um mandamento. Senão, pergunte-se: no que as panelinhas podem contribuir para o seu crescimento profissional, se lá é o espaço para a bajulação e/ou escárnio? Mais uma vez, foco é essencial, e descobrir quem está apto a somar é a conseqüência lógica disso.

"Antes de continuar, vale a pena parar um pouco e refletir sobre o seguinte: a competitividade no ambiente de trabalho é excelente, se ela servir para a descoberta de novas lideranças, aumentar a produtividade da empresa e enxugar a folha. Mas ela deve manter-se numa linha estritamente profissional, o que implica na identificação da massa inerte que, além de ameaçar a carreira dos colaboradores comprometidos, mantém altos os custos de produção.

"Finalmente, a terceira e última atitudo e o último mandamento: não se importe muito com as incursões e assédios dessa classe de trabalhador. Afinal, o que eles querem é tirar o seu foco e criar um certo nível de paranóia no local de trabalho.

"Nesse ambiente, a vida dos profissionais esforçados é muito dura. Sob constante pressão interna (dele próprio) e externa (do meio ambiente de trabalho), ele está numa posição de fragilidade, diante das práticas acima descritas.

"Portanto, compete ao bom gestor identificar esses mal elementos, porque é exatamente essa a função de um líder. Enfim, porque existe uma diferença clara e profunda entre um líder e um chefe. Essa diferença está na base, na mão de obra que entende como funcionam os processos e, por essa única razão, devem ser os primeiros a serem ouvidos".

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Huppert Cunha é licenciado em Administração de Empresas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná. Atualmente, presta consultoria empresarial para multinacionais na região cisplatina.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Neo-autoritarismo?

Ontem foi aprovada a nova lei que fixa o salário mínimo. Porém, o novo dispositivo legal contém uma inconstitucionalidade que indica (sinaliza) uma postura autoritária da atual gestão federal, na República brasileira. Sob a desculpa de que o processo legislativo é lento e não alcança a dinamicidade da vida social, o governo conseguiu aprovar uma lei que dá ao Executivo a capacidade de alterar o valor do salário mínimo por meio de Decreto.


Com efeito, o inciso IV do artigo 7º da Constituição federal é claro ao estabelecer que o salário mínimo de ser fixado por lei; "lei" em sentido material, como ato típico e de competência do Poder Legislativo. Qualquer aluno que esteja a iniciar seus estudos diante da dogmática jurídica ou da ciência política entende que a norma constitucional é o fundamento (técnico) de validade das chamadas "normas infraconstitucionais", porque estabelece os critérios de elaboração desse segundo tipo normativo, sendo correto considerá-la como fundamento jurídico-político das leis a ela submetidas.

Diante dessa consideração, não se pode admitir que uma norma infraconstitucinal atinja ou contrarie a norma hierarquicamente superior (que dirige ou estabelece a sua criação e funcionamento). Os congressistas não poderiam, portanto, limitar ou alterar o funcionamento da norma constitucional em questão, senão por meio de uma Emenda Constitucional - norma jurídica típica, destinada às alterações da matéria jurídica comentada. Em que pese alguns poderem comentar que isso seria possível, posto que seria o próprio Legislativo a abrir mão de uma competência constitucional, o caminho mais viável e juridicamente correto seria o da adoção de uma Lei Delegada, que transferi-se à PresidentE a competência para alterar o valor do salário mínimo, conforme regras do art. 61 e sucessivos da Constituição Federal de 1988.

Da forma como foi confeccionada, a lei aprovada ontem (23 de fevereiro de 2011) somente demonstra a falta de confiança do governo federal em sua base aliada, sinalizando em direção a um autoritarismo inesperado (antes mesmo de completar 2 meses de mandato). É conveniente ressaltar, inclusive, que essa classificação (esquerda e direita) depende da posição que os partidos ocupam nos governos brasileiros (oposição e situação), na tradição política brasileira. A quantidade de absurdos que vêm sendo praticados pelos gestores dos partidos da antiga-esquerda equipara-se aos mais comuns desmandos e práticas da direita brasileira: do clientelismo ao parternalismo, do abuso de autoridade ao uso da máquina pública, do nepotismo ao despotismo.

Está na hora de reafirmar os ideais que levaram à democratização do País, antes que as luzes se transformem em trevas, e que se assista ao retrocesso político das ditaduras nascentes da América Latina. Essa é uma tradição que precisa ser combatida pelas forças sociais que atuaram nos bastidores do cenário político nacional e que levaram à mudança ou alternância de poder. O Brasil precisa agir antes que se forme uma nova elite política corrupta e assistencialista neste País.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Pérolas do ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio

O material que você lê abaixo é o resultado de 20 anos de uma política educacional ineficiente e (por que não dizer?) corrupta que se instalou neste País.

Nos anos de 1990, o Banco Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) impuseram regras para a concessão de investimentos estrangeiros nos países em desenvolvimento: aumentar índices de crianças e adolescentes nas escolas, atender metas de aprovação desses alunos no ensino fundamental e médio, melhorar o ensino superior, e assim por diante.


Ocorre que o Brasil vem falseando as aprovações de alunos no ensino público (fundamental e médio) desde então. O que acontece? Aprovações em massa. Reprovações ao mínimo - de preferência, ZERO reprovações, com sucessivas e intermináveis manobras para aprovar os alunos.

Lembrete: inserção na escola e criação de oportunidades não é sinônimo de adulteração de resultados acadêmicos. Dar oportunidade não é empurrar o aluno para o próximo nível/ano acadêmico, mas prepará-lo para os desafios reais do processo de ensino/aprendizagem.

Andamos muito mal. Brincamos de Sociedade civil organizada. Educação não é brincadeira. Abaixo, temos 40 respostas dadas aos quesitos do ENEM, que demonstram o quão preparados estão nossos alunos do ensino médio. Confira, a seguir:

1) - Lavoisier foi guilhotinado por ter inventado o oxigênio.

2) - A harpa é uma asa que toca.

3) - O vento é uma imensa quantidade de ar.

4) - O terremoto é um pequeno movimento de terras não cultivadas.

5) - Os egípcios antigos desenvolveram a arte funerária para que os mortos pudessem viver melhor.

6) - Péricles foi o principal ditador da democracia grega.

7) - O problema fundamental do terceiro mundo é a superabundância de necessidades.

8) - O petróleo apareceu há muitos séculos, numa época em que os peixes se afogavam dentro d'água.

9) - A principal função da raiz é se enterrar.

10) - A igreja, ultimamente, vem perdendo muita clientela.

11) - O sol nos dá luz, calor e turistas.

12) - As aves tem na boca um dente chamado bico.

13) - A unidade de força é o Newton, que significa a força que se tem que realizar em um metro da unidade de tempo, no sentido contrário.

14) - Lenda é toda narração em prosa de um tema confuso.

15) - O nervo ótico transmite idéias luminosas ao cérebro.

16) - A febre amarela foi trazida da China por Marco Polo.

17) - Os ruminantes se distinguem dos outros animais porque o que comem, comem por duas vezes.

18) - O coração é o único órgão que não deixa de funcionar 24 horas por dia.

19) - Quando um animal irracional não tem água para beber, só sobrevive se for empalhado.

20) - A insônia consiste em dormir ao contrário.

21) - A arquitetura gótica se notabilizou por fazer edifícios verticais.

22) - A diferença entre o Romantismo e o Realismo é que os românticos escrevem romances e os realistas nos mostram como está a situação do país.

23) - O Chile é um país muito alto e magro.

24) - As múmias tinham um profundo conhecimento de anatomia.

25) - O batismo é uma espécie de detergente do pecado original.

26) - Na Grécia a democracia funcionava muito bem porque os que não estavam de acordo se envenenavam.

27) - A prosopopéia é o começo de uma epopéia.

28) - Os crustáceos fora d'água respiram como podem.

29) - As plantas se distinguem dos animais por só respirarem a noite.

30) - Os hermafroditas humanos nascem unidos pelo corpo.

31) - As glândulas salivares só trabalham quando a gente tem vontade de cuspir.

32) - A fé é uma graça através da qual podemos ver o que não vemos.

33) - Os estuários e os deltas foram os primitivos habitantes da Mesopotâmia.

34) - O objetivo da Sociedade Anônima é ter muitas fábricas desconhecidas.

35) - A Previdência Social assegura o direito a enfermidade coletiva.

36) - O Ateísmo é uma religião anônima.

37) - A respiração anaeróbica é a respiração sem ar que não deve passar de três minutos.

38) - O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo.

39) - Antes de ser criada a Justiça, todo mundo era injusto.

40) - Caráter sexual secundário são as modificações morfológicas sofridas por um indivíduo após manter relações sexuais.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Frustração

É preciso saber lidar com a frustração, para não se deixar dominar pelo sentimento em tela. Na realidade, comprendê-la passa por saber qual é a sua origem e, depois, examinar até que ponto se pode ser influenciado por seus efeitos. Por isso, algo de arqueológico se coloca diante de quem reflete sobre isso.


Uma das primeiras e mais fáceis explicações que se pode dar acerca da origem da frustração é transcendente, isto é, ao invés de se perceber que, como sentimento que é, ela desenvolve-se dentro do indivíduo, como reação endógena a um estímulo externo, sendo, portanto, subjetiva. Não se pode realizar a frustração como algo de responsabilidade de terceiro, quer dizer, ela não tem origem na atitude do "outro", mas é, antes, uma perspectiva do "eu" em determinado contexto. Assim, jamais se pode identificar a frustração como uma decepção em relação à atitude de outrem, mas, antes, uma reação interna, de responsabilidade da pessoa que a sente em razão de uma expectativa que criou acerca de um fato ou pessoa. Senão, todas as relações humanas seriam frustrantes, e tal não se pode ter por válido, sob pena de inexistência do gozo.

Uma segunda consideração acerca da frustração tem a ver com as antecipações irracionais que o indivíduo pode operar sobre o domínio de sua realidade vivencial. Assim, examinando as suas próprias situações cotidianas, o indivíduo poderá traçar estratégias e metas, baseadas nos cálculos que faz acerca de suas capacidades. Diante de uma falha nessas medições, tem-se um nível de frustração eficaz, válido e até sadio, pois influencia positivamente o ser a buscar novos métodos e aprovisionamento de forças para vencer os obstáculos futuros - mas é claro que se está a descrever o comportamento arredio à depressão, coisa tão comum nos tempos que correm.

Então, quando a frustração é real e em que medida pode ser útil? Difícil responder a essa pergunta. Minimamente, para considerá-la algo útil, quer no sentido biológico, quer no mental, é preciso dispor de tempo para refletir sobre sua origem e efeitos; o reposicionamento do pensamento, a reflexão, quer dizer, toda a atividade mental necessária à compreensão do ser na curva espaço-tempo e à reorganização da vida são commodities escassas, disponíveis a $eleto grupo de indivíduo$. Agora, se é real ou simplesmente uma fraqueza de espírito, aí é uma questão de se avaliar com que repetitividade esse sentimento costuma se repetir no cotidiano, se isso não demonstra certa imaturidade e assim por diante.

O fato é que a frustração é algo a se discutir diante desses níveis de ansiedade que aumentam no corre-corre da contemporaneidade. Ser saudável é saber lidar com as próprias emoções e com as dos outros, lembrando-se que poucos são aqueles que têm tempo para avaliar suas atitudes e compreender o mundo no qual estão inseridas. Enquanto isso... frustrações para você, nesta data, querida.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

"O analfabeto político" - por Bertold Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, nem participa nos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.

Não sabe o bôbo que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Bispo de Limoeiro do Norte (CE), dom Manuel Edmilson da Cruz recusa comenda no Senado

D. Manuel Edmilson da Cruz discursa no Senado, recusando o recebimento de uma homenagem, logo após a IMORAL aprovação do aumento do salário dos parlamentares - num país aonde milhões de aposentados, mendigos e trabalhadores passam fome.

Poucas são as oportunidades verdadeiramente democráticas como esta. Não são os grupos de pressão nem os "movimentos sociais" da demagogia brasileira: é a voz do cidadão.

Vale a pena assistir. Divulgue!


sábado, 15 de janeiro de 2011

Chove

Engraçado como um fenômeno natural qualquer pode ter repercussões diferentes, conforme se vai de um lado para outro. Aqui no Brasil, fica mais fácil observar isso, devido às dimensões continentais do País e à língua homogênea que facilita a troca de informações. A chuva, por exemplo, é uma benção no sertão nordestino, mas uma calamidade nas capitais (no litoral).


Na perspectiva urbana, levando-se em consideração que a maioria das capitais brasileiras encontra-se ou no litoral, ou à beira de algum rio navegável, a precipitação pluviométrica sempre traz consigo o risco de inundações, alagamentos e tudo de prejudicial à vida urbana - dos engarrafamentos, às famílias desalojadas de suas residências. Ali, a chuva é vilã. Os recentes deslizamentos no Estado do Rio de Janeiro, o transbordo de afluentes de rios no Estado de São Paulo, e problemas similares nas outras capitais são exemplos desses transtornos causados pelas chuvas. Mas será mesmo a chuva a origem desses transtornos? Não seria o uso desordenado do solo, a ocupação indiscriminada de áreas sujeitas à proteção ambiental e a falta tanto de políticas públicas e sociais, quanto de conscientização das populações no que respeita à preservação do meio ambiente social e natural?

Já na perspectiva do sertanejo (categoria em extinção por força do êxodo rural, causado pela "política da cerca/seca" e pela mecanização da agricultura), a situação é bem diferente. Essas populações vem sendo removidas do litoral desde os tempos da colonização, enfrentando hoje novos desafios, como o trazido pela fruticultura, pela agroindústria e pela expansão das grandes cidades e da transformação das zonas de pesca artesanal em pesca industrial. Para esse povo, que ocupa as terras improdutivas do semi-árido brasileiro, a chuva é uma benção divina, sinal de que a vida pode continuar, de que "Deus proverá". Nesse aspecto, essa população sertaneja (e com ela, toda a população do meio rural) sabe que a natureza não é um obstáculo, um desafio, mas um ambiente no qual o homem, através de uma espécie de parceria, consegue o seu sustento - em que pesem as adversidades e a extenuante labuta, através da agricultura familiar e auto-sustentável.

Pois resta saber quem tem razão, diante dessa divergência, qual seja, de saber se a chuva é uma benção ou um castigo, de origem divina ou fortúita. Caso em que o bom observador, sem pressa, deve refletir, para entender "aonde" está ou "se" existe um problema.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O "problema" da preservação cultural e histórica brasileira

Tradicionalmente, percorrer a História do Brasil é uma investigação árdua, visto que o resultado da pesquisa será quase sempre a "história oficial". Há muito se discutem as fontes históricas, pois a maioria é fruto da narrativa dos grupos dominantes, que conseguem preservar seu ponto de vista, aquele considerado mais "apropriado" - como representação simbólica e justificação do Poder social. Esse é o principal fator nas discussões acerca do problema brasileiro - sendo, por si, um problema transversal.

Como ficou sugerido acima, existe uma versão mais "apropriada" - termo escolhido propositadamente, para demonstrar que existe uma real apropriação (apontando para um sentido jurídico, pois que está ligada à noção de propriedade). Essa apropriação narrativa é um artifício utilizado desde sempre, tendo em vista que as obras escritas tendem à manutenção dos regimes nos quais são produzidas. É claro que sempre existem narrativas marginais, guardadas principalmente pela tradição oral, que é culturalmente marginalizada pelo mainstream midiático. Exemplos dessa narrativa marginal podem ser encontrados no Nordeste brasileiro, por exemplo, na literatura de cordel, nos ditados populares, nos mitos e lendas que ainda sobrevivem (a muito custo!) na cultura popular dos setores mais periféricos desta Região (como o sertão). Essa cultura marginal ainda sobrevive, em que pese a crescente e invencível força dos grandes meios de comunicação.


Entretanto, não se deve pensar que se trata apenas de um problema que tem origem na força econômica da mídia hegemônica, ou que este problema está ligado apenas aos interesses das elites sociais dominantes. Tranta-se de uma dificuldade inerente à preservação de valores, inerente aos movimentos internos de organização dos sistemas sociais. Uma das observações que podem ser feitas a esse respeito remete a discussão da "desmasculinização" das sociedades ocidentais; o fim da objetividade e a inserção da subjetividade nas relações sociais, através da conquista de novos direitos aos grupos sociais marginalizados (mulheres, minorias étnicas, homossexuais, imigrantes e assim por diante) foram fatores que influenciaram não apenas o Brasil, mas quase todos os países influenciados pela colonização européia. Essas transformações, como é evidente, não ocorreram de forma similar em todos os lados, nem se assentaram indelével e pacificamente em todos os cantos, mas tem sido uma força constante e inexorável que não se pode ovildar.

Dessa maneira, o "problema" da preservação cultural brasileira é um falso problema, na medida em que a cultura é exatamente aquilo que se cultiva. Mesmo que doa perceber o quanto a maioria dessa "nova cultura" é empurrada goela-abaixo à população nacional, o somatório dos fatores acima descritos remontam ao redemoinho melvilleniano que poderia ter engolido Moby Dick, que findará por engolir à cultura brasileira (ela mesma, de certa forma, inventada, produzida, arquitetada). Porém, farão falta as histórias de Lampião e Maria Bonita, do Boi-tatá e ou do Saci Pererê que, de certeza, só por milagre serão salva às gerações futuras.

Fundamentalmente, o mesmo problema recai sobre a História. A apropriação e determinação das narrativas "verdadeiras" dá-se basicamente da mesma forma como acontece com a narrativa cultural, só que com efeitos mais nefastos e prejuciais, pois interferem na organização política da Sociedade. Elas são cruciais porque interferem diretamente na interpretação de momentos históricos que somente a muito custo são recuperados pelos acadêmicos que se debruçam sobre certos períodos e fases que compõem as épocas da política nacional ou falam do viver de determinadas gerações. Um exemplo disso foi a reconstrução da narrativa referente ao período da ditadura militar 1964-1988 (finda com a promulgação da atual Constituição Democrática), que começou nos anos 1980's e durou até o final dos anos 1990's. Outro exemplo, mais recente, é o da suposta "fase de ouro" da democracia, que elegeu um governo supostamente socialista, inciada no Governo Lula, e que começa a ser desmanchada através dos escândalos revelados pelo Wikileaks (http://213.251.145.96/) - nas comunicações travadas entre as embaixadas norte-americana e brasileira, nas quais ficam claras as intenções de dominação político-econômica brasileira em relação aos vizinhos latino-americanos.

Francamente, fica difícil seguir em frente, consumindo o material das empresas monopolistas que se apropriaram da comunicação social brasileira, que silenciam todas as vezes que seus interesses econômicos são garantidos pelos governantes da nação. Mas outra conclusão não seria possível, tendo em vista que o cão minimamente domesticado sabe que não deve morder a mão que o alimenta (fato que me remete a lembranças pouco agradáveis, da falta de comprometimento acadêmico com a verdadeira crítica social, em troca de migalhas que sustentam pesquisas pouco confiáveis... mas a força das ruas e o protesto dos trabalhadores revelam o que os hipócritas engravatados e os gabinetes desejam esconder e ignorar... óh pá!). A internet e seus canais independentes de informação parecem ser a única saída e solução...