segunda-feira, 6 de novembro de 2023

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O DEVER SER DO SISTEMA UNIVERSAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

A Organização das Nações Unidas (ONU) foi estabelecida no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, com a assinatura da Carta das Nações Unidas em 1945, com o objetivo de promover a paz e a segurança internacionais, o desenvolvimento sustentável, os direitos humanos e a manutenção do direito internacional. Com uma representação quase universal de Estados-membros, a ONU trabalha como uma plataforma global para que as nações cooperem em um vasto espectro de questões cruciais.

No âmago de seus objetivos relacionados aos direitos humanos está a crença de que a paz duradoura e a segurança só podem ser alcançadas se os direitos fundamentais de todas as pessoas forem respeitados e protegidos. Isso implica não apenas a prevenção de conflitos, mas também o combate à pobreza, à injustiça social e à discriminação de todas as formas. A proteção e promoção dos direitos humanos estão incorporadas em todas as atividades da ONU, desde operações de manutenção da paz e assistência humanitária até iniciativas de desenvolvimento sustentável.

Além de seu próprio sistema de tratados e órgãos de monitoramento de direitos humanos, a ONU reconhece a importância dos sistemas regionais de proteção de direitos humanos, que oferecem mecanismos adicionais de accountability e proximidade cultural e política aos contextos específicos de cada região. Esses sistemas, como a Corte Europeia de Direitos Humanos, a Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, desempenham papéis vitais na interpretação e aplicação de normas de direitos humanos dentro de suas jurisdições.

A ONU não só apoia esses sistemas regionais em termos ideológicos, mas também por meio de cooperação técnica e assistência. Um exemplo é o apoio que as agências da ONU, como o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), prestam para fortalecer as instituições de direitos humanos regionais e nacionais. A cooperação entre a ONU e os sistemas regionais também se manifesta em programas conjuntos, missões de observação, e compartilhamento de melhores práticas e estratégias para enfrentar violações de direitos humanos.

Essa cooperação é crucial porque permite que as organizações tirem proveito de suas forças únicas. Enquanto a ONU oferece um palco para o consenso global e a formulação de normas internacionais, os sistemas regionais têm a capacidade de se concentrar em desafios específicos, levando em conta as nuances políticas, culturais e históricas de suas regiões. Essa sinergia entre as instituições globais e regionais é fundamental para criar um quadro mais robusto e sensível de proteção de direitos humanos, que pode responder tanto aos desafios universais quanto aos específicos enfrentados pelas comunidades locais.

A colaboração também ocorre na esfera de respostas a crises. Quando os sistemas regionais identificam situações de grave risco aos direitos humanos, a ONU pode mobilizar seus recursos consideráveis para prestar assistência, seja por meio de intervenções diplomáticas, sanções ou até apoio a operações de manutenção da paz, com o consentimento dos Estados-membros. Por outro lado, a ONU pode se valer dos sistemas regionais para implementar suas resoluções e expandir o alcance de suas iniciativas de direitos humanos.

Através dessas ações coordenadas, a ONU e os sistemas regionais de direitos humanos contribuem conjuntamente para um ambiente internacional em que a dignidade e o valor do ser humano são priorizados, e onde os princípios da Carta das Nações Unidas são realizados não apenas em palavras, mas em ações concretas que afetam a vida de pessoas em todo o mundo.

O Conselho de Segurança é um dos principais órgãos da Organização das Nações Unidas e tem como principal responsabilidade a manutenção da paz e segurança internacionais. Composto por quinze membros, incluindo cinco membros permanentes com poder de veto — Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China — e dez membros não permanentes eleitos para mandatos de dois anos, o Conselho é a única entidade da ONU com a autoridade para emitir resoluções vinculativas para os Estados-membros.

Para alcançar seus objetivos de paz e segurança, o Conselho de Segurança pode utilizar uma variedade de medidas que vão desde sanções econômicas e embargos de armas até autorizações para intervenções militares, sempre levando em conta as normas e princípios do Direito Internacional. Ao lidar com violações de direitos humanos, o Conselho pode, por exemplo, estabelecer missões de manutenção da paz e tribunais ad hoc, como os que foram criados para a antiga Iugoslávia e Ruanda, para processar aqueles acusados de crimes de guerra e genocídio.

Quanto ao Tribunal Penal Internacional (TPI), convém que se diga que tal instituição é uma entidade independente e permanente criada para julgar indivíduos acusados de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e o crime de agressão. Apesar de sua independência, o TPI e a ONU têm um relacionamento cooperativo. O Conselho de Segurança tem o poder, sob o Capítulo VII da Carta das Nações Unidas, de se referir a situações ao TPI quando acredita que crimes dentro da jurisdição do TPI foram cometidos e que isso ameaça a paz e segurança internacionais.

Além disso, o Conselho de Segurança pode desempenhar um papel significativo na cooperação com o TPI, especialmente quando se trata de cumprir as decisões do Tribunal. Embora o TPI não tenha sua própria força policial para fazer cumprir suas ordens e mandados de prisão, ele depende da cooperação dos Estados para fazer isso. Quando um Estado falha em cooperar com o TPI, o Conselho de Segurança pode intervir para exercer pressão política e diplomática ou para impor sanções com o objetivo de assegurar a conformidade.

Por exemplo, se um Estado-membro recusa-se a prender e transferir um indivíduo acusado pelo TPI, o Conselho de Segurança pode considerar esta recusa como uma ameaça à paz e segurança internacionais e pode agir para assegurar a cooperação do Estado com o Tribunal. Isso é fundamental, pois garante que as decisões do TPI não fiquem apenas no papel, mas sejam efetivamente implementadas, reforçando assim o sistema internacional de justiça criminal.

Desta forma, pode-se afirmar seguramente que o Conselho de Segurança serve como um pilar fundamental na estrutura da ONU para a promoção da paz e dos direitos humanos. Ao se engajar com outros órgãos e entidades, como o TPI, ele ajuda a assegurar que a justiça seja feita em um cenário global e que os perpetradores de graves violações dos direitos humanos sejam responsabilizados, reforçando assim a ordem jurídica internacional e o respeito aos direitos humanos.

Por sua vez, o Tribunal Penal Internacional (TPI) tem um mandato específico e definido para lidar com os crimes mais graves que preocupam a comunidade internacional: genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e o crime de agressão. Em termos de sanções, o TPI é limitado a determinadas formas de punição. Diferentemente de algumas jurisdições nacionais, o TPI não tem a autoridade para impor a pena de morte. As penas aplicadas pelo TPI geralmente envolvem prisão e podem variar de alguns anos a prisão perpétua, dependendo da gravidade do crime e das circunstâncias individuais do caso.

Em contraste, as sanções que podem ser aplicadas pelo Conselho de Segurança da ONU são bem mais variadas e não se limitam à responsabilização individual. Quando o Conselho de Segurança age, ele o faz geralmente em relação a Estados ou grupos não estatais, e não indivíduos específicos. As medidas que o Conselho pode adotar incluem sanções econômicas, como embargos comerciais, restrições financeiras, e embargos de armas. Em casos extremos e quando autorizado por uma resolução aprovada pelo Conselho de Segurança, podem ser empregadas forças militares para manter ou restaurar a paz internacional e a segurança.

Portanto, enquanto o TPI foca na responsabilidade penal individual e na imposição de penas de prisão para impedir a impunidade, as ações do Conselho de Segurança visam restaurar a paz e a segurança internacionais, muitas vezes por meio de pressões políticas e econômicas ou, em raras circunstâncias, ações militares. Ambos trabalham para o objetivo comum de justiça e manutenção da ordem internacional, mas operam em esferas e com ferramentas distintas.

Ações constitucionais e aprofundamento da democracia brasileira pós-1988

 O acesso ao Poder Judiciário é uma salvaguarda fundamental para a democracia plena, conforme estabelecido pela Constituição Federal do Brasil de 1988. Este direito, assegurado pelo artigo 5º, inciso XXXV, que afirma que "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito", é um dos pilares para a efetivação dos direitos e garantias individuais e coletivos.

Este princípio, conhecido como princípio da inafastabilidade da jurisdição, garante que qualquer cidadão, independentemente de sua condição social, econômica ou política, pode buscar no Judiciário a solução para conflitos e a reparação de direitos. É uma manifestação concreta do Estado Democrático de Direito, pois assegura que não haverá barreiras intransponíveis impostas pelo Estado ou por indivíduos que impeçam o acesso à justiça.

A Constituição de 1988 ampliou o conceito de justiça ao reconhecer os direitos sociais e coletivos e ao introduzir mecanismos de tutela para interesses difusos e coletivos, como a ação civil pública e a ação popular. Além disso, estabeleceu o Ministério Público como fiscal da lei e defensor dos interesses sociais e individuais indisponíveis, dando-lhe autonomia funcional e administrativa.

A importância desse acesso vai além da solução de disputas. Ele permite a fiscalização e o controle das ações do poder público e privado, servindo como um contrapeso ao poder político e como instrumento de fortalecimento das instituições democráticas. Em última análise, o livre acesso ao Poder Judiciário permite que o cidadão não seja apenas um espectador, mas um participante ativo na construção de uma sociedade justa, livre e solidária, tal como preconiza o preâmbulo da Constituição Federal.

O Judiciário, portanto, não é apenas um poder do Estado, mas um espaço de cidadania onde cada brasileiro pode buscar a realização de direitos, exercendo assim um papel crucial na manutenção e no aperfeiçoamento da democracia brasileira.

As ações constitucionais são instrumentos processuais previstos na Constituição Federal do Brasil que têm como principal objetivo garantir a proteção dos direitos individuais, coletivos e sociais, e dessa forma, aprofundam o acesso à Justiça. Entre essas ações, destacam-se:

1) Habeas Corpus (art. 5º, LXVIII): Esta ação serve para proteger qualquer pessoa que sofra ou se encontre ameaçada de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.

2) Mandado de Segurança (art. 5º, LXIX e LXX): Protege direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.

3) Mandado de Injunção (art. 5º, LXXI): Quando a falta de norma regulamentadora torna inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais, bem como das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.

4) Habeas Data (art. 5º, LXXII): Garante o direito de obter informações de caráter pessoal registradas sobre si em bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público, bem como a correção destes dados.

5) Ação Popular (art. 5º, LXXIII): Permite a qualquer cidadão contestar atos considerados lesivos ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.

6) Ação Civil Pública: Embora não mencionada expressamente na Constituição, ela é prevista na legislação infraconstitucional e serve para a proteção de interesses difusos e coletivos, como o meio ambiente, o consumidor, bens de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

7) Cada uma dessas ações constitucionais possui características específicas e serve para a proteção de direitos em diferentes contextos. O que as une é a promoção do acesso à Justiça, essencial para o regime democrático, pois possibilita que qualquer pessoa possa acionar o Poder Judiciário para a defesa de seus direitos.

Além disso, essas ações fortalecem o controle social sobre o poder público, ao permitir que os cidadãos atuem diretamente na fiscalização e no combate a ilegalidades e abusos de poder. Ao facilitarem o exercício de direitos e o acesso à Justiça, essas ações constitucionais contribuem para a proteção dos direitos fundamentais e o fortalecimento do Estado Democrático de Direito.

Após a promulgação da Constituição de 1988, conhecida como "Constituição Cidadã", uma série de legislações infraconstitucionais foram elaboradas para regulamentar e concretizar os direitos e garantias fundamentais estabelecidos na Constituição. Essas leis infraconstitucionais são fundamentais para o acesso à justiça e a realização da justiça social no Brasil. Entre elas, destacam-se:

Lei dos Juizados Especiais (Lei nº 9.099/1995): Esta lei criou os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, que têm competência para a conciliação, o julgamento e a execução de causas de menor complexidade. Eles facilitam e agilizam o acesso à justiça, permitindo uma resolução mais rápida de pequenos conflitos.

Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/1985): Embora anterior à Constituição de 1988, esta lei foi recepcionada por ela e ampliada em seus efeitos. A ação civil pública é um importante instrumento para a defesa de direitos difusos e coletivos, como o meio ambiente, o consumidor, entre outros.

Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990): Estabelece direitos e obrigações nas relações de consumo, permitindo que os consumidores possam buscar o judiciário para a resolução de conflitos, muitas vezes por meio de ações coletivas, o que fortalece o acesso à justiça.

Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001): Regulamenta os direitos sociais à moradia e à cidade sustentável, determinando diretrizes para o planejamento urbano, com a participação da comunidade, promovendo justiça social e o direito a cidades mais humanas e inclusivas.

Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/1992): Estabelece punições para atos de improbidade cometidos por agentes públicos, permitindo não apenas sanções administrativas, mas também ações judiciais para ressarcimento ao erário.

Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006): Visa a prevenir e combater a violência doméstica e familiar contra a mulher, representando um avanço significativo na proteção dos direitos das mulheres e no acesso à justiça para as vítimas de violência.

Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/1984): Regula a execução das penas privativas de liberdade e as medidas de segurança, estabelecendo direitos básicos dos presidiários e mecanismos para sua reinserção social, contribuindo para uma justiça penal mais humana.

Lei de Assistência Jurídica Gratuita (Lei nº 1.060/1950, e suas atualizações): Garante assistência judiciária gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos, assegurando o acesso à justiça mesmo àqueles sem condições de arcar com custos processuais.

Estas e outras leis infraconstitucionais operacionalizam os direitos constitucionais, criando mecanismos e procedimentos específicos para sua efetivação. Elas estabelecem um marco legal que permite que as pessoas recorram aos tribunais para garantir seus direitos e resolver conflitos, promovendo o acesso à justiça e a justiça social. Além disso, essas leis regulam as instituições e definem os processos por meio dos quais o Estado deve agir para garantir e proteger os direitos dos cidadãos, contribuindo para o aprofundamento da democracia e para o fortalecimento do Estado de Direito no Brasil.

sábado, 21 de outubro de 2023

Karl Marx: por que ele está morto e não podemos enterrá-lo?

 A obra de Karl Marx, que percorre mais de quatro décadas, reflete não apenas a evolução do pensamento de um indivíduo, mas também o amadurecimento de uma concepção do mundo em sua análise do capitalismo. A diferenciação entre o "Marx Jovem" e o "Marx Velho" não é meramente cronológica, mas aponta para uma transição na profundidade, na complexidade e na acuidade de suas análises.

O Marx Jovem, especialmente nas obras dos anos 1840, tem uma abordagem mais filosófica e humanista. Ele é frequentemente associado à ideia da alienação do homem em relação ao seu próprio trabalho e à busca por uma sociedade mais justa e equitativa. No entanto, embora seus escritos dessa época sejam cruciais para entender as raízes de seu pensamento, é no Marx Velho que encontramos uma análise sistemática e detalhada do capitalismo.

O "Das Kapital", escrito pelo Marx Velho, é tido como sua obra-prima e é aqui que ele disseca o funcionamento do capitalismo com uma precisão quase científica. Sua análise sobre a mais-valia, a acumulação de capital e o processo de reprodução do capitalismo é profunda e complexa. Em vez de apenas identificar os problemas inerentes ao sistema, como faz no início de sua carreira, Marx descreve meticulosamente como eles operam e se perpetuam.

Além disso, a obra do Marx Velho tem uma relevância especial para a compreensão do capitalismo de seu tempo por três razões principais:

Entendimento da Dinâmica do Capital: Através de sua abordagem da mais-valia, Marx demonstra como a exploração é inerente ao sistema capitalista. Ao entender essa dinâmica, é possível identificar as contradições e vulnerabilidades do sistema, permitindo a previsão de crises e a formulação de alternativas.

Identificação da Concentração de Capital: Marx aponta para a tendência inerente ao capitalismo de concentração de riqueza e poder nas mãos de poucos. Esta observação é especialmente relevante hoje, quando observamos desigualdades extremas em muitas sociedades ao redor do mundo.

Reconhecimento das Contradições Internas: A obra madura de Marx descreve as contradições inerentes ao capitalismo, que levam a crises periódicas. Estas crises, conforme analisadas por Marx, não são anomalias, mas sim características do sistema.

Para a percepção do capitalismo contemporâneo, abordar o Marx Velho é essencial para entender a natureza intrínseca do sistema. Seu olhar penetrante sobre o funcionamento do capitalismo oferece lições valiosas, não apenas para críticos do sistema, mas também para aqueles que buscam compreendê-lo profundamente e, talvez, reformá-lo.

Portanto, a literatura original de Karl Marx, especialmente a de sua fase madura, oferece uma análise perspicaz e detalhada do capitalismo. A profundidade de seu pensamento e a relevância de suas observações fazem com que, mesmo após sua morte, a obra de Marx continue a ser uma ferramenta essencial para a compreensão do mundo em que vivemos.

A Tzar Bomba: dois olhares acerca de um problema físico-nuclear

No universo da física nuclear, a "Tzar Bomba" representa um feito notável da engenharia e design de armas. O artefato soviético foi o culminar de um intenso esforço de pesquisa e desenvolvimento no contexto da Guerra Fria, representando a bomba termonuclear mais poderosa já detonada. Com uma capacidade explosiva estimada em cerca de 50 megatons, a bomba, tecnicamente conhecida como RDS-220, foi aproximadamente 3.500 vezes mais poderosa do que a bomba que devastou Hiroshima.

O design da Tzar Bomba se baseava na reação de fusão nuclear, aproveitando o processo pelo qual núcleos leves se combinam para formar núcleos mais pesados, liberando enormes quantidades de energia no processo. Ao contrário das bombas atômicas de Oppenheimer, que dependiam primariamente da fissão nuclear - um processo de divisão de núcleos pesados - a Tzar Bomba incorporava ambos os processos: fissão seguida de fusão e, em seguida, fissão novamente, ampliando imensamente seu rendimento explosivo.

A detonação da Tzar Bomba não foi apenas um marco técnico, mas também uma demonstração de poder que ressoou em várias dimensões da geopolítica global. Em um mundo já assombrado pelo espectro de uma guerra nuclear, a capacidade da União Soviética de desenvolver e detonar uma arma de tal magnitude enviou uma mensagem inconfundível sobre sua capacidade técnica e vontade política.

Esta demonstração alterou de maneira irrevogável o equilíbrio de poder em termos de capacidades nucleares. As superpotências estavam agora em um terreno de paridade, se não em superioridade por parte dos soviéticos, no domínio das armas nucleares. Isso teve implicações profundas para a diplomacia, as estratégias de dissuasão e as negociações de controle de armas que se seguiram.

Do ponto de vista sócioambiental, a Tzar Bomba representou o potencial humano para causar destruição em uma escala nunca antes imaginada. A capacidade de uma única arma aniquilar cidades inteiras, alterar climas e causar danos ambientais de longo prazo tornou-se uma preocupação central para os ativistas da paz e do meio ambiente. A magnitude da explosão e seus efeitos secundários reforçaram a urgência de iniciativas globais de desarmamento e a busca por soluções diplomáticas para tensões geopolíticas.

Concluindo, a Tzar Bomba, além de ser uma obra-prima técnica da física nuclear, tornou-se um símbolo da capacidade humana de autodestruição e da necessidade premente de medidas globais para evitar um cataclismo nuclear.

Robert Oppenheimer: uma leitura pouco ambiciosa de sua vida pessoal

J. Robert Oppenheimer, uma figura central no desenvolvimento da bomba atômica dos Estados Unidos e, por extensão, na evolução da física do século XX, é uma personalidade multifacetada cuja vida pessoal e profissional é marcada por complexidades e contradições. Uma análise sociológica de sua vida, fundamentada em biografias autorizadas e fontes documentais primárias e secundárias, pode revelar insights sobre o contexto sociopolítico da sua época e as influências que moldaram sua trajetória.

Nascido em 1904 em uma família judia de classe alta em Nova York, Oppenheimer cresceu em um ambiente de privilégio econômico. Este contexto social não deve ser subestimado. A segurança financeira e a educação esmerada que recebeu permitiram-lhe explorar plenamente suas aptidões acadêmicas, levando-o a instituições prestigiosas como a Harvard University e mais tarde ao continente europeu, epicentro da física teórica na época. A sua formação e trajetória acadêmica não são apenas reflexos de seu brilhantismo intelectual, mas também produtos de seu status social.

Sua identidade judaica, combinada com um forte sentido de justiça social, também parece ter influenciado suas inclinações políticas. Durante a década de 1930, Oppenheimer mostrou simpatias pelo comunismo, um fato que mais tarde traria consequências significativas em sua carreira durante o macartismo. Este aspecto de sua vida é especialmente revelador quando se considera a natureza dicotômica de sua existência: um físico de renome trabalhando para o governo dos Estados Unidos, mas simultaneamente simpatizante de ideologias vistas como antagônicas ao Estado.

O papel de Oppenheimer como diretor científico do Projeto Manhattan colocou-o em uma posição única de poder e influência, mas também de imenso dilema moral. As implicações sociológicas de um cientista envolvido na criação de uma arma de destruição em massa são profundas. A famosa citação de Oppenheimer, "Tornei-me a morte, o destruidor de mundos", extraída do Bhagavad Gita após o teste Trinity, é emblemática dessa angústia.

Para concluir, a vida pessoal de Robert Oppenheimer, entrelaçada com os eventos sociopolíticos de sua época, serve como um estudo fascinante sobre as interações entre individualidade, ciência e sociedade. Sua trajetória ilustra a complexidade inerente à existência humana, onde fatores pessoais, identidade cultural e circunstâncias históricas se convergem e se chocam de maneiras muitas vezes imprevisíveis.

O Direito Universal Islâmico e o Direito Positivo Ocidental

 

O Direito Universal Islâmico e o Direito Positivo Ocidental: Divergências, Semelhanças e Pontos de Tensão

 

O direito, seja ele inspirado por preceitos divinos ou moldado pelas mãos humanas, serve como uma bússola para sociedades ao redor do mundo, orientando comportamentos, justiça e interações sociais. A tensão entre o direito de inspiração divina no Islã e o direito positivo ocidental contemporâneo é um reflexo das complexas interações culturais, filosóficas e históricas que marcaram o desenvolvimento global. Esta dissertação explora os conceitos centrais, divergências teóricas e os pontos de tensão entre esses dois sistemas jurídicos.

 

         I.            Conceitos centrais:

 

a)       Direito Universal Islâmico (Sharia): Para muitos muçulmanos, a Sharia, derivada do Alcorão e da Sunnah, é a manifestação da vontade divina, oferecendo um guia completo para todos os aspectos da vida, desde os rituais religiosos até as interações sociais. Esta visão da lei é reminiscente do conceito de "direito natural" que floresceu na Europa medieval, onde a lei era vista como uma expressão da ordem divina.

b)      Direito Positivo Ocidental: Este é um sistema secular, onde a lei é criada através de processos democráticos, baseada na vontade do povo e em tradições legais estabelecidas. A lei pode ser alterada e adaptada conforme a sociedade evolui e as necessidades mudam.

 

       II.            Divergências teóricas:

 

A natureza e origem das leis constituem a principal divergência. Enquanto a Sharia é vista como eterna e imutável em sua essência (embora a interpretação possa variar), o direito positivo ocidental é inerentemente mutável, permitindo que as sociedades se adaptem e evoluam.

A abordagem da justiça também varia. A Sharia enfoca tanto a justiça terrena quanto a espiritual, com um forte componente moral e ético. O direito positivo ocidental, por outro lado, geralmente separa o moral do legal, focando principalmente em estabelecer uma ordem social justa.

 

     III.            Pontos de tensão entre a lei divina e o direito positivo contemporâneo:

 

1.       Direitos Humanos: Questões de gênero, liberdade de expressão e direitos LGBT+ são particularmente sensíveis. Enquanto o Ocidente promove uma visão liberal baseada na autonomia individual, a Sharia pode ter interpretações mais conservadoras, embasadas em princípios religiosos e comunitários.

 

2.       Punção Penal: Aspectos do direito penal islâmico, como as punições hudud, podem ser vistos como draconianos sob uma lente ocidental. Hudud (em árabe: حدود, plural de "hadd" que significa "limite" ou "barreira") refere-se a um conjunto específico de ofensas dentro da lei islâmica (Sharia) para as quais foram estabelecidas punições fixas no Alcorão ou na Sunnah (tradições do Profeta Maomé). Estas ofensas são vistas como violações dos direitos de Deus e, portanto, têm punições prescritas que são consideradas divinamente ordenadas.

No campo penal, pode-se elencar alguns exemplos de ilícitos que constituem as ofensas hudud e suas punições correspondentes:

a)       Zina (adultério ou fornicação): Para os não casados, a punição pode ser de 100 chicotadas.

b)      Qadhaf (falsa acusação de zina): A punição para falsamente acusar alguém de adultério ou fornicação sem fornecer as quatro testemunhas necessárias é de 80 chicotadas.

c)       Sariqa (roubo): A punição para roubo, sob certas condições, é a amputação da mão.

d)      Hiraba (assalto à mão armada, terrorismo, banditismo) e Baghy (rebelião): As punições variam de acordo com a gravidade do crime e podem incluir execução, crucificação, amputação de membros opostos (mão direita e pé esquerdo) ou exílio.

e)      Ridda (apostasia / renunciar ao Islã):  Pena de morte.

 

3.       Liberdade Religiosa: A visão ocidental contemporânea valoriza a liberdade de crença, enquanto a apostasia e a blasfêmia podem ser severamente punidas sob muitas interpretações da Sharia.

 

Conclusão:

A tensão entre o direito universal islâmico e o direito positivo ocidental não é apenas uma questão jurídica, mas também cultural, filosófica e histórica. Portanto, reconhecer as nuances e complexidades de cada sistema é essencial para uma coexistência harmoniosa em um mundo globalizado. Enquanto divergências existem, também existem possibilidades para diálogo, entendimento e intercâmbio construtivo entre estas tradições jurídicas.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Preceitos Fundamentais na Constituição Brasileira de 1988

 Preceitos Fundamentais na Constituição Brasileira de 1988 e sua Repercussão na Ordem Jurídica e Sociedade

 A Constituição Federal de 1988, que molda o sistema jurídico brasileiro, é profunda em significado e amplitude, trazendo em seu bojo os preceitos fundamentais que garantem a coesão, a justiça e o direcionamento da nação. Estes preceitos são pedras angulares, servindo como normas e princípios que orientam e iluminam todo o ordenamento jurídico, refletindo diretamente na vida dos cidadãos e na organização do Estado.

  • Exemplos e Aplicações no Cotidiano:

 Dignidade da Pessoa Humana: Um dos maiores pilares do ordenamento, é aplicado em diversas situações, como na proibição de tratamento degradante nas prisões, na proteção contra discriminação e na garantia de um mínimo existencial a todos os cidadãos.

 Separação dos Poderes: Concretizado diariamente na atuação independente, porém harmônica, dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, garante um equilíbrio institucional e impede abusos de autoridade.

 Soberania: Manifesta-se nas relações internacionais do Brasil, na defesa do território e nos atos que asseguram a independência nacional.

 Cidadania: Está presente no exercício do voto, na participação política e nas diversas formas de manifestação e associação.

 Valores Sociais do Trabalho: Refletidos nas leis trabalhistas que garantem direitos como férias, 13º salário e proteção contra demissão arbitrária.

 

  • Interpretação do Ordenamento e Proteção de Direitos:

 Os preceitos fundamentais operam como verdadeiras bússolas para a interpretação jurídica. Eles orientam não apenas o legislador na criação de normas, mas também o magistrado na hora de aplicar a lei, garantindo que os direitos fundamentais sejam sempre protegidos e promovidos.

 

  • Manutenção do Estado Democrático de Direito:

 Sem os preceitos fundamentais, o Estado Democrático de Direito estaria em constante ameaça. Eles asseguram as liberdades fundamentais, impedem o surgimento de regimes autoritários e garantem a participação popular no processo político.

 

  • Influência no Regime Político e Limitações ao Poder:

 Os preceitos fundamentais estabelecem os limites dentro dos quais o poder pode ser exercido, garantindo a pluralidade política, a alternância de poder e a transparência na gestão pública.

 

  • Repercussão em Diversas Áreas do Direito Constitucional:

 Ambiental: O princípio do meio ambiente ecologicamente equilibrado, garantido como direito fundamental, orienta políticas públicas e ações privadas, assegurando um desenvolvimento sustentável.

 Econômico: Os preceitos fundamentais direcionam a economia para atender ao bem-estar social, por meio, por exemplo, da função social da propriedade e da busca pela redução das desigualdades regionais e sociais.

 Social: A educação, saúde e assistência social são direitos de todos, e os preceitos fundamentais asseguram sua universalidade, integralidade e equidade.

 Cultural: A promoção e proteção da cultura brasileira, a preservação do patrimônio histórico e artístico e o estímulo à produção cultural são refletidos e garantidos pelos preceitos fundamentais.

 À guisa de conclusão, pode-se afirmar seguramente que os preceitos fundamentais são o DNA da Constituição e, consequentemente, da sociedade brasileira. Eles permeiam todas as áreas do direito, influenciando ações, decisões e políticas, e garantindo um Brasil mais justo, igualitário e democrático.

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Princípios e ética constitucional dos preceitos fundamentais: na gestão de recursos florestais, promoção da igualdade de acesso ao lazer, preservação de ecossistemas marinhos, direito à liberdade religiosa, proteção de ecossistemas aquáticos, promoção da igualdade de acesso à participação política, respeito às tradições culturais locais, ética na tecnologia da informação, responsabilidade na gestão de recursos minerais, promoção da igualdade de acesso à justiça ambiental, preservação de sítios paleontológicos, promoção da igualdade de acesso à tecnologia de comunicação, respeito aos direitos dos animais, ética na publicidade, responsabilidade na gestão de recursos pesqueiros, promoção da igualdade de acesso ao transporte, preservação de áreas protegidas, promoção da igualdade de acesso a oportunidades educacionais, respeito à pluralidade religiosa, ética na arquitetura, responsabilidade na gestão de recursos minerais, promoção da igualdade de acesso à educação ambiental, preservação de locais de valor arqueológico, promoção da igualdade de acesso à tecnologia assistida, respeito aos direitos das comunidades LGBTQ+, ética na pesquisa científica, responsabilidade na gestão de recursos naturais, promoção da igualdade de acesso à justiça social, preservação de tradições culturais indígenas, promoção da igualdade de acesso à tecnologia médica, respeito às crenças espirituais locais, ética na inteligência artificial, responsabilidade na gestão de recursos hídricos, promoção da igualdade de acesso à tecnologia de informação, preservação de espécies ameaçadas, promoção da igualdade de acesso à educação inclusiva, respeito às tradições religiosas, ética nos negócios, responsabilidade na gestão de recursos marinhos, promoção da igualdade de acesso à cultura, preservação de sítios culturais, promoção da igualdade de acesso à tecnologia educacional, respeito às crenças espirituais indígenas, ética na pesquisa médica, responsabilidade na produção de energia, promoção da igualdade de acesso a oportunidades de trabalho, preservação de ecossistemas marinhos, promoção da igualdade de acesso a oportunidades educacionais, respeito à diversidade cultural, ética na engenharia, responsabilidade na gestão de recursos florestais, promoção da igualdade de acesso à justiça ambiental, preservação de áreas protegidas, promoção da igualdade de acesso à tecnologia de comunicação, respeito aos direitos dos animais, ética na publicidade, responsabilidade na gestão de recursos pesqueiros, promoção da igualdade de acesso ao transporte, preservação de áreas de conservação, promoção da igualdade de acesso a oportunidades de lazer, respeito à pluralidade religiosa, ética na arquitetura, responsabilidade na gestão de recursos minerais, promoção da igualdade de acesso à educação ambiental, preservação de locais de valor paleontológico, promoção da igualdade de acesso à tecnologia assistida, respeito às comunidades LGBTQ+ , ética na pesquisa científica, responsabilidade na gestão de recursos naturais, promoção da igualdade de acesso à justiça social, preservação de tradições culturais indígenas, promoção da igualdade de acesso à tecnologia médica, respeito às crenças espirituais locais, ética na inteligência artificial, responsabilidade na gestão de recursos hídricos, promoção da igualdade de acesso à tecnologia de informação, preservação de espécies ameaçadas, promoção da igualdade de acesso à educação inclusiva, respeito às tradições religiosas.

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

EQUILÍBRIO DE PODER NA DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS

O panorama das relações internacionais é definido por uma constante interação entre "soft power" e "hard power". Enquanto o "soft power" foca na atração e persuasão, o "hard power" refere-se ao uso da força ou coerção para obter o que se deseja de outros estados. Esta dualidade é especialmente relevante quando consideramos as relações multilaterais mediadas pela diplomacia e pelo direito internacional público.

Hard Power

No âmbito do direito internacional, o hard power manifesta-se frequentemente através de sanções, ameaças militares e, em casos extremos, intervenções. A capacidade de um Estado em mobilizar e usar recursos militares ou econômicos para influenciar outros países é um reflexo direto deste poder. Um exemplo pode ser a imposição de sanções econômicas pela ONU a países que violam resoluções ou normas internacionais.

Porém, o uso excessivo ou mal orientado do hard power pode gerar resistência e animosidade. Por exemplo, intervenções militares unilaterais sem um claro mandato internacional podem ser vistas como invasões ou imperialismos, desacreditando a imagem do Estado interventor no cenário mundial.

Soft Power em contraposição

Ao contrário do hard power, o soft power não busca impor, mas convencer e atrair. No contexto da diplomacia, a capacidade de um país em construir coalizões, promover diálogos e fomentar entendimentos baseia-se largamente em seu soft power. Instituições como a UNESCO, por exemplo, promovem valores e normas culturais e educacionais que são abraçados voluntariamente por outros países devido ao seu apelo e não por imposição.

O direito internacional público, com suas convenções e tratados, muitas vezes reflete essa interação entre soft e hard power. Por exemplo, enquanto a Carta da ONU prevê mecanismos de coerção em caso de violações (hard power), ela também promove a resolução pacífica de disputas e cooperação internacional (soft power).

Relações Multilaterais

Nestas relações, a diplomacia e o direito internacional público atuam como mediadores, buscando equilibrar interesses divergentes. A eficácia da diplomacia muitas vezes reside na habilidade de um país em usar seu soft power para construir consensos e promover cooperação. Em fóruns multilaterais, como a ONU, países que são vistos como líderes não apenas por sua capacidade econômica ou militar, mas por seus valores, cultura e contribuições para o bem comum, exercem influência desproporcional.

Joseph Nye, ao introduzir o conceito de "soft power" no panorama das relações internacionais, revolucionou a forma como entendemos a dinâmica do poder entre os Estados. Para compreender a transição ideológica que ele propõe, é vital examinar seus fundamentos e a lógica subjacente à sua teoria.

"Soft power" é um termo que foi cunhado pelo acadêmico Joseph Nye em 1990 e refere-se à capacidade de um país de influenciar outros atores internacionais não por meio da coerção (como no uso de força militar ou sanções econômicas), mas através da atração e persuasão. É um tipo de poder que se manifesta através de aspectos culturais, valores ideológicos e políticas externas que são vistas como legítimas ou atraentes para outros.

No contexto jurídico, o soft power pode ser visto na disseminação de sistemas legais ou princípios normativos que são adotados por outros países devido à sua percepção de legitimidade ou eficácia, e não por imposição. Por exemplo, após a Segunda Guerra Mundial, muitos princípios do direito internacional dos direitos humanos foram amplamente adotados, em parte, devido à influência do soft power dos países ocidentais que os promoviam.

Nas relações internacionais, exemplos de soft power podem incluir a exportação da cultura pop, como a onda Hallyu da Coreia do Sul, que se refere à crescente popularidade global da música, filmes e dramas coreanos. Quando as pessoas em todo o mundo passam a admirar e consumir produtos culturais de um país, isso pode levar a uma visão mais positiva desse país, aumentando sua influência global.

O soft power representa a capacidade de influenciar através da atração, em contraste com o "hard power", que se baseia em meios coercitivos. Em um mundo globalizado, onde as relações públicas e a imagem de um país têm um papel crucial nas relações internacionais, o soft power torna-se uma ferramenta essencial para a diplomacia e a estratégia global.

1. Contextualização Histórica: Nye desenvolveu sua teoria em um momento de transição global. A Guerra Fria estava terminando, e a dinâmica bipolar de poder entre os Estados Unidos e a União Soviética estava desaparecendo. Era um período em que a globalização e a interconexão entre os Estados estavam crescendo rapidamente.

2. Definição de Poder: Para Nye, poder é a capacidade de influenciar os outros para obter os resultados desejados. Tradicionalmente, esse poder era visto em termos de recursos tangíveis, como força militar ou riqueza econômica ("hard power"). No entanto, Nye argumentou que a capacidade de um país de atrair e cooptar, através de sua cultura, valores políticos e políticas externas, é igualmente crucial.

3. Limitações do Hard Power: Nye observou que o uso exclusivo da força ou coerção frequentemente traz resultados contraproducentes. Além de ser caro, pode gerar ressentimento e resistência, diminuindo a influência de um país no longo prazo.

4. Atração e Persuasão: No cerne da teoria do soft power está a ideia de que é mais eficaz atrair e persuadir do que coagir. Isso não significa que o hard power seja irrelevante, mas que deve ser equilibrado com estratégias que promovam a atração.

5. A Importância da Credibilidade: Um dos principais elementos do soft power é a credibilidade. Para que um país exerça influência, suas ações internas e externas devem estar alinhadas. A hipocrisia ou a contradição entre o que um país promove e o que pratica pode erodir seu soft power.

6. Evolução das Relações Internacionais: Nye partiu da ideia de que, em um mundo cada vez mais interligado, as relações bilaterais tradicionais estão dando lugar a redes complexas de interação. Nessas redes, o soft power desempenha um papel crucial, facilitando a cooperação e a coordenação.

Como se pode denotar, Joseph Nye identificou uma mudança nas relações internacionais, onde a força bruta estava se tornando menos eficaz e, muitas vezes, contraproducente. Ele argumentou que, em um mundo interconectado, a capacidade de atrair e persuadir é mais benéfica e eficaz para as relações multilaterais. Ao fazer isso, Nye não só redefiniu a compreensão do poder nas relações internacionais, mas também destacou a necessidade de estratégias de diplomacia mais sofisticadas e integradas.

Em conclusão, enquanto o hard power continua relevante e, em certas circunstâncias, necessário, o soft power é cada vez mais reconhecido como fundamental em um mundo interconectado. A capacidade de influenciar através da atração e persuasão, e não apenas pela coerção, é crucial para a construção de um mundo mais cooperativo e pacífico. A interação entre soft e hard power, mediada pela diplomacia e pelo direito internacional público, define em grande parte a dinâmica das relações multilaterais contemporâneas.

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segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Seria possível defender o conceito “ubi societas ubi jus, ibi jus ubi societas” no contexto do Nazismo e do Fascismo italiano?

 INTRODUÇÃO

Defender o brocado "ubi societas ubi jus, ibi jus ubi societas" no contexto do Fascismo ou do nazismo é uma tarefa complexa e delicada, porque ambos os regimes violaram princípios fundamentais de justiça, direitos humanos e ética. Nestes casos, as leis ("lex") eram usadas para legitimar atrocidades, tornando difícil argumentar que onde há sociedade, há "jus" (direito) no sentido de uma justiça universal ou princípios éticos.

O que esses regimes demonstram é que a presença de um sistema legal formal ("lex") não necessariamente implica a existência de "jus" no sentido de justiça ou moralidade. Aqui, "lex" e "jus" divergem dramaticamente. O direito, neste contexto, foi manipulado para servir a fins injustos, mostrando que a lei escrita pode ser uma ferramenta de opressão e injustiça, em vez de um mecanismo para a realização de princípios justos.

Essa desconexão entre "lex" e "jus" em regimes como o Fascismo e o nazismo ilustra a importância de manter uma crítica ativa e um escrutínio ético sobre as leis e os sistemas legais. Serve também como um lembrete severo de que a presença de leis e de um sistema legal não é, por si só, suficiente para garantir uma sociedade justa ou ética.

Portanto, enquanto o brocado pode geralmente sugerir que o direito e a sociedade são coexistentes e mutuamente influentes, ele não garante que essa coexistência seja sempre justa ou ética. Isso nos mostra a importância de estar sempre atentos à relação entre "lex" e "jus", e à necessidade de esforços constantes para alinhar os dois em direção à justiça e à equidade.

DESENVOLVIMENTO

H. L. A. Hart, um dos juristas mais influentes do século XX, abordou a relação entre "lei" e "direito" em sua obra seminal "O Conceito de Direito" ("The Concept of Law"). Hart argumenta a favor de um "positivismo jurídico", que separa o que a lei é do que a lei deveria ser. Ele introduz a ideia de que um sistema legal é composto por "regras primárias" e "regras secundárias". As regras primárias são aquelas que governam o comportamento diretamente (como proibições e mandatos), enquanto as regras secundárias são aquelas que governam como as regras primárias são criadas, modificadas ou aplicadas.

Um dos pontos-chave de Hart é o conceito de "regra de reconhecimento", uma regra secundária que estabelece os critérios pelos quais outras regras são reconhecidas como parte do sistema legal. Isso se assemelha à ideia de "lex" em que é uma estrutura formal e reconhecida.

Ao mesmo tempo, Hart reconhece que o sistema legal não é um sistema fechado e que muitas vezes há "casos difíceis" onde as regras existentes não fornecem respostas claras. Nestes casos, ele permite algum grau de interpretação judicial, que pode levar em consideração princípios de justiça e moralidade. Isso faz uma ponte com a noção de "jus", o direito como um conjunto mais amplo de princípios éticos e sociais.

Entretanto, Hart mantém uma certa distância entre "lei" e "moral", argumentando que, embora a moral possa influenciar a lei, elas são domínios distintos. Ele critica tanto o "jusnaturalismo", que vê a lei como intrinsecamente ligada à moral, quanto o "positivismo jurídico estrito", que tenta separar completamente a lei da moral.

Dessa forma, Hart oferece uma abordagem mais matizada para entender a relação entre "lex" (a lei como um conjunto de regras reconhecidas) e "jus" (o direito como um conceito mais amplo que pode incluir noções de justiça e moralidade), mantendo-os como domínios inter-relacionados, mas distintos.

Por sua vez, Ronald Dworkin, um jurista e filósofo americano, oferece uma abordagem substancialmente diferente da de H.L.A. Hart sobre a natureza do direito. Dworkin é conhecido por sua crítica ao positivismo jurídico, argumentando que a lei não é apenas um conjunto de regras, mas também incorpora princípios morais e éticos.

Um dos conceitos centrais de Dworkin é a ideia de que os juízes não apenas aplicam a lei, mas também a "interpretam" à luz de princípios morais e éticos. Em sua obra mais conhecida, "Levando os Direitos a Sério" ("Taking Rights Seriously"), ele introduz a ideia de que os direitos individuais são um componente central do direito e devem ser levados em consideração mesmo quando entram em conflito com a vontade da maioria.

Dworkin também introduz o conceito de "integridade do direito". Ele argumenta que o direito deve ser visto como um conjunto coerente de princípios que buscam fazer justiça em casos individuais. Para ele, a lei ("lex") e a justiça ou os princípios morais ("jus") estão intrinsecamente ligados, e um não pode ser entendido adequadamente sem o outro.

Ele critica o que vê como uma abordagem "regrista" de Hart e outros positivistas, que, em sua visão, reduzem o direito a um conjunto de regras sem considerar os princípios subjacentes. Para Dworkin, esses princípios são parte inseparável do sistema legal e devem ser usados para resolver "casos difíceis" onde as regras existentes são ambíguas ou incompletas.

Assim, enquanto Hart oferece uma estrutura mais formalista e separada para entender "lex" e "jus", Dworkin argumenta que os dois são profundamente interconectados e que o direito deve ser entendido como uma mistura de regras e princípios orientados pela meta de justiça social e individual.

OS ARGUMENTOS DE KELSEN

Hans Kelsen, um dos mais importantes teóricos do direito do século XX, é talvez mais conhecido por sua "Teoria Pura do Direito", na qual ele defende uma visão estritamente positivista e formalista da lei. No entanto, em sua obra "O que é Justiça?", Kelsen explora a relação entre direito e justiça de uma maneira um tanto diferente, embora ainda mantenha sua perspectiva positivista.

Kelsen argumenta que a justiça é um ideal, não uma realidade empírica, e que sua definição pode variar de acordo com diferentes culturas e períodos históricos. Para ele, o conceito de justiça é relativo e não pode ser definido de maneira absoluta. Isso pode ser visto como uma forma de abordar a ideia do "justo subjetivo", embora ele não use esse termo.

No entanto, Kelsen mantém que, enquanto o conteúdo específico da justiça pode ser relativo, o próprio conceito de justiça implica uma forma de igualdade. Isto é, qualquer sistema que se pretenda justo deve tratar casos iguais de forma igual e casos desiguais de forma desigual, de acordo com suas desigualdades. Isso poderia ser visto como um critério para o "justo objetivo".

Desta feita, embora Kelsen mantenha sua perspectiva positivista, que separa o "é" do "deve ser", ele também reconhece que o direito frequentemente busca realizar ideais de justiça, mesmo que esses ideais sejam culturalmente e historicamente contingentes. No entanto, ele é cético quanto à possibilidade de definir a justiça de forma absoluta, vendo-a mais como um ideal regulador do que como uma realidade concreta.

CONCLUSÃO

No contexto das deliberações sobre a intrínseca relação entre "lex" (lei) e "jus" (direito), as teorias de Kelsen, Dworkin e Hart oferecem prismas distintos e complementares para interpretar a dinâmica entre o legal e o justo. Kelsen, por exemplo, se situa no domínio do positivismo jurídico puro, abordando a lei predominantemente de uma perspectiva normativa, onde a justiça permanece relativizada a contextos culturais e históricos específicos, enfatizando uma separação clara entre a moral e o direito. Ele vê o conceito de justiça como um ideal regulatório, que embora intrinsecamente ligado à igualdade, é essencialmente indecifrável por sua natureza relativa e mutável. Aqui, embora a “lex” seja central, o “jus” surge como um ideal potencialmente inatingível e essencialmente subjetivo, acentuando uma distinção clara entre os domínios da lei e da justiça moral.

Por outro lado, Dworkin oferece uma resposta mais integrada ao problema da justiça no direito, onde a lei é não apenas um conjunto de regras, mas também incorpora princípios morais, desafiando assim a rigidez do positivismo jurídico. Dworkin propõe uma interpretação construtiva da lei, na qual a justiça se entrelaça inerentemente com a lei através de princípios morais que guiam a tomada de decisões judiciais, especialmente em “casos difíceis”. Aqui, o “jus” não está separado da “lex” mas, ao contrário, é incorporado na complexa malha do sistema legal. Este enfoque favorece um “justo objetivo”, onde há uma busca persistente pela harmonia entre as leis vigentes e a integridade moral, promovendo um equilíbrio entre normas estabelecidas e princípios éticos subjacentes.

Hart, se posicionando de maneira um tanto intermediária, oferece uma teoria que reconhece a necessidade de regras primárias e secundárias, permitindo algum grau de interpretação moral nas bordas do sistema legal, ainda que mantenha uma ênfase na estrutura formal da lei. Ele contempla a existência de "casos difíceis" onde a moral pode se tornar um fator determinante na aplicação da lei, criando assim um espaço para o “jus” em sua teoria. Esse reconhecimento apresenta uma abertura para uma possível convergência entre “lex” e “jus”, promovendo uma visão mais dinâmica da lei. Ao fazer isso, Hart delineia uma abordagem matizada, ressaltando a inter-relação entre o legal e o moral, e destacando a necessidade de uma análise crítica e moral do sistema legal.

Em conjunto, essas teorias destacam a complexa e multifacetada relação entre “lex” e “jus”. Enquanto Kelsen defende uma distinção clara entre lei e moral, e Dworkin busca uma maior integração entre os dois, Hart oferece uma visão intermediária que permite a interação da lei com princípios morais e éticos, ainda que dentro de uma estrutura mais formalista. O debate entre esses teóricos, portanto, oferece uma rica tapeçaria de perspectivas que pode servir como um guia para explorar a eterna questão da justiça no domínio do direito.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

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sábado, 15 de julho de 2023

Veritas Absoluta Divergente: um diálogo improvável entre Cícero e Marco Aurélio

Cicero: Salve, Marco Aurelio! Verum semper inquiris? Aestimo tuam sagacitatem, amice meus.

Marco Aurelio: Salve, Cicerone! Utique, semper veritatem quaero. Est fundamentum honestatis et sapientiae. Quomodo tu autem concepis veritatem?

Cicero: Veritatem absoluto sensu non existere puto, amice. Ego credo veritatem esse quiddam subiectivum, quod varie a nobis percipi potest. Quot homines, tot sententiae.

Marco Aurelio: Mi Cicero, veritas absolute certa esse debet. Existit una et aeterna veritas, quae sapientiam omnibus offerre debet. Nonne a Deo emanat?

Cicero: Certum est, amice, nos homines inquisitores sumus. Sed quomodo certo possumus asserere veritatem aeternam esse? Nostri sensus fallaces sunt, et errores in cognitione facimus. Num decepti erramus?

Marco Aurelio: Utique, errorem effugere difficile est. Sed hoc non negat veritatem esse. Veritas in nobis inest, atque per rationem et iudicium a veritate abeuntem judicare possumus.

Cicero: Verum dicis, Marco Aurelio. Ratio nobis donata est ut veritatem inquiramus. Sed utrum unam veritatem invenire possumus, quae omnes comprehendat?

Marco Aurelio: Non nego veritatem esse multiformem, sed sunt principia universalia, quae omnes veritates continere possunt. Deus et natura sunt fontes veritatis. Ego ad haec principia me converto.

Cicero: Ego quoque rationem sequor, amice, sed mea philosophia fert me ad e pluribus veritatibus accedendum. Ratione ad investigandum et disserendum utimur, ut proximam veritatem quam maxime adaequemus.

Marco Aurelio: Sed cur non contendas veritatem absolute acquirere? Si multi errores committuntur, nonne ad perfectionem tendere debemus?

Cicero: Sicut ego animo scio, perfectionem ultimam, veritatem absolutam, nullus hominum assequi potest. Sed per iudicium rationis et virtutem, ad proximam veritatem appropinquare possumus. In hoc spes est, amice.

Marco Aurelio: Verum dicis, Cicero. Nos debemus humiliter veritatem inquirere et errores nostros corrigere. Veritas nos dirigere debet, et in eadem perseverare. Ergo, in proxima veritate nobis coniungamus.

Cicero: Optime dicis, Marco Aurelio. Veritas nobis lucem dat et viam demonstrat. In proxima veritate et iustitia maneamus, amice meus, ut meliores esse possimus.

Marco Aurelio: Eo consentio, Cicero. Per veritatem et virtutem, beatitudinem consequemur. Vale, amice meus, in proxima veritate persevera.

Cicero: Vale, Marco Aurelio. Semper veritatem quaeramus et in proxima veritate persistamus. Nobiscum sit sapientia et virtus.