
Aquilo fez-me lembrar de uma aula proferida pelo Professor Boaventura de Sousa Santos, relacionada a sua teoria da ecologia dos saberes.
A despeito de alargar demais o conceito de educação, temos que ter em conta que educação e cultura andam de braços dados. É bastante comum pernsarmos em termos de educação desvinculado da cultura, quando traçamos o objetivo daquela como inserida no desenvolvimento de técnicas úteis ao crescimento econômico. Mas, ao contrário, devemos ter a consciência de que uma das principais finalidades da educação é a transmissão da cultura adquirida, das tradições e formas de viver e conviver com a natureza e criar condições adequadas ao convívio social. Olhando esta questão sob este outro ângulo (da cultura), temos também de reconhecer que o modelo ocidental de educação dos últimos dois séculos vem multilando, aniquilando e apagando das memórias todos os tipos de conhecimentos (informação) que não são úteis aos sistemas de produção capitalista. E isto se dá por várias razões, muitas delas ligadas aos interesses da indústria.
Se pegarmos, por exemplo, o conhecimento dos povos relacionados à saúde, veremos que muito daquilo que hoje se poderia chamar de "curandeirismo" ou "feitiçaria" era, em outros tempos, conseqüência de uma maior simbiose entre o conhecimento humano e a natureza. É evidente que existem riscos na prática humana dissociada do saber científico, mas o que está em causa é a desconstrução de formas de saber que pertencem à cultura (de um determinado povo, por exemplo, o indígena) pela sublimação do senso comum através do conhecimento científico. Este último, muitas vezes, é uma apropriação empírica do senso comum com a finalidade de apropriação capitalista: marginalizando os conhecimentos e práticas milenares e, na ponta oposta ao desenvolvimento industrial ocidental, oprimindo e regulamentando negativamente (proibição) a praxis sedimentada na cultura desses povos.

Classificar uma determinada cultura de obsoleta ou "não civilizada" e tentar aniquilar a sua repetição numa determinada comunidade é uma tentativa de apagar a História de um povo. Intervir nos processos de educação e cultura locais é estabelecer a cultura ocidental como standard, condenando à morte as formas tradicionais de transmissão do saber e engessando os saberes conquistados ao londo dos milênios da vida humana na terra.