quarta-feira, 23 de maio de 2007

Armas, flores e estilos

Os estudantes da Universidade de São Paulo preparam flores de papel para resistir contra a Polícia Militar do Estado. Aí está um fenômeno interessante no movimento estudantil brasileiro e que pode servir de modelo de resistência às "políticas de violência" naquele Estado. A atitude destes jovens, que desde o dia 3 de maio ocupam a reitoria de sua universidade, é louvável e clara manifestação cidadã, democrática e, portanto, legítima. Inclusive, não é de se estranhar que os professores da mesma instituição tenham entrado em greve (no melhor estilo budista, em que o mestre aprende com o aluno): é sinal que os seus pupilos não podem estar errados - há algo de podre no reino da USP (no melhor estilo shakespiriano).

Muita coisa mudou desde o fim da ditadura militar; não há mais intervenção do exército nem da polícia política (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna ou DOI-CODI para os "íntimos", no melhor estilo fascista). Também não há, ou pelo menos ficou desarticulado os protestos de jovens estudantes armados com bombas caseiras, coquetéis molotov e etc (no melhor estilo Che Guevara); os estudantes que manifestam contra o desmantelo das instituições públicas de ensino superior protestam de maneira pacífica (no melhor estilo Ghandi)... Alguns podem argumentar que a ocupação do prédio da reitoria da USP é, em si, um atitude ilegal. Mas a legalidade jamais deve prevalecer sobre a legitimidade: o jurídico deve ser sempre inferior ao político, o jurídico é sempre uma conseqüência do político. É de se perceber que os atuais movimentos e organizações populares tomam relevo e assumem práticas que, muitas vezes são atentatórias à ordem pública e ao ordenamento jurídico - isso é inquestionável. Mas a violência do Estado não deve ser utilizada contra manifestações pacíficas; ela serve de condão contra a criminalidade e o "braço da lei" jamais deve levantar-se contra o cidadão.


Neste turbilhão de eventos estão realidades plúrimas, motivos diversos e aspirações assimétricas; nas últimas décadas, o Estado brasileiro deveria ter feito uma larga reforma, nos campos social, cultural, econômico e educacional, convergindo para um modelo de participação inclusiva e de redistribuição de riquezas. Entretanto, assumindo uma postura neoliberal (no melhor estilho Thatcher ou Reagan), as elites econômico-financeiro-burocrático, industrial-latifundiárias brasileiras procederam ao maior desmonte já visto em todas as instituições estatais, com uma agenda definida pela lex mercatoria e de acordo com as diretrizes do Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e companhia limitada (no melhor estilo Bretton Woods). Assim, os ajustes econômicos percorreram toda a política da Federação brasileira e uma das áreas estratégicas mais importantes ao desenvolvimento nacional foi a que mais sofreu: a Educação. Deve-se frisar, sempre que possível, o potencial escondido por trás da Educação como solução emancipatória, como ferramenta de desenvolvimento humano, como verdadeira arma contra a opressão das estratégias hegemônicas de dominação político-econômicas que atuam no background da globalização do sistema de produção capitalista neoliberal. Cuidar da formação acadêmica de jovens tanto pode alavancar a economia, quanto pode servir aos interesses de uma revolução de costumes e sistemas jurídico-políticos. Neste último fim reside o meio das elites brasileiras: a conscientização de seu povo.

Agora é esperar que a Secretaria de Segurança Pública garanta a segurança dos jovens que protestam pacificamente na reitoria da USP. Aqueles rapazes e moças são cidadãos em atividade cívica de protesto e estão protegidos pelas leis que afirmam ser o Brasil um país democrático.

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