Era uma vez, num reino distante, um Monarca muito imponente e ambicioso. Ele era conhecido por sua avassaladora paixão: todas as vezes que se apaixonava por algo, fazia de tudo para submetê-lo ao seu controle, a todo custo.
De tanto ouvir as histórias de belezas e de liberdade nas florestas, cantadas por seu menestrel - um poeta e "cientista das palavras", que falava em língua de kari'oca -, o Rei criou uma imensa curiosidade sobre a liberdade dos pássaros. Então, mandou construir um enorme palácio nas margens de um mangue, para que pudesse ouvir o canto dos bem-te-vi mais de perto, quando viesse passar férias numa das mais lindas praias do seu reinado... Foi lá que ele encontrou, pela primeira vez, o tucano azul do Cocó.
Obcecado pela beleza daquela ave, apaixonou-se pelos tucanos azuis. E não descansou enquanto não conseguiu capturar a todos; nessa tarefa, destruiu toda a floresta, eliminando com ela todos os animais que ali haviam...
No Município de Fortaleza, a civitas cresceu junto ao mar. A urbanidade dividiu o espaço com a natureza, mas não teve remorsos de a invadir, assim que preciso. O comércio precisava circular, o homem do campo veio à polis e a população cresceu. Sem parecer poético, convém dizer que o crescimento urbano foi organizado, até o período em que "o muro" da cidade não ia muito longe da Praça do Ferreira.
E esse urbanismo foi estruturado em compasso com a delimitação de uma área destinada aos pobres, sob a forma perversa da favela - mesmo que se pense nela num momento embrionário, romântico... E a cidade cresceu em direção à praia - criando a zona de concentração de riqueza, de entesouramento imobiliário e, portanto, de alto valor comercial. Sugiro uma visita ao Google Maps, para uma vista aérea que poucos podem desfrutar (de helicóptero) -> Examine, a forma do botão "Hybrid". Observe a distribuição da cidade no solo e tente identificar as áreas de favela...
A totalidade dessa área ocupada era terreno de praia - areia fina e cristalina -, e o litoral era cercado por dunas de areia, como a que existe em Jericoacoara. Eu cresci ali - vi dunas perto da casa de meus pais, quando era criança. Era ali que as crianças da classe média brincavam com as crianças da favela. Foi ali que aprendi a descer a duna de carritilha; nunca saí ferido ou fui importunado, nunca fui roubado por nenhuma daquelas crianças que vendiam as pranchas de carritilha (o snowboard provavelmente nasceu daquilo... eis o desprezo da modernidade contra o tradicional). O espaço era compartilhado, dividido entre as classes, por mais que persistisse a vergonha da miséria e o ócio da pujança e do perfume. E quando adolescente, não prestei atenção que a duna da Rua Almeida Prado (Papicu) virou prédio.
Isso porque, hoje, o espaço natural não é mais "meio ambiente" e o meio ambiente segrega os meios sociais. A Ciência, quando lhe apetece, tem a mania de ver as coisas esquisofrenicamente: por isso, artificialmente cria a separação entre natureza e sociedade. E há quem se utilize do espaço natural para a construção de seus palácios comerciais, como o rei daquela história. A pena que a história do tucano azulado tem também é a pena que sinto da história da minha cidade.
- A lex mercatoria e o Meio ambiente social
Desde de finais da década de 1990, Fortaleza tem se tornado um dos destinos turísticos mais procurados na baixa estação turística européia. Os pacotes de viagem são acessíveis a grande parte da classe média européia e ficaram ainda mais baratos com a construção do Aeroporto Internacional Pinto Martins - pois os vôos são diretos ou tem menos escalas e custos. A cidade oferece várias opções de diversão e um litoral paisagístico rico e rústico. Não se pode negar que a economia na Capital do Estado do Ceará (Brasil) cresceu nas últimas décadas.
Em contrapartida, não é em qualquer sítio que costuma ficar o "nobre turista europeu"; é preciso muita proteção (repressão policial), o que implica gastos públicos em segurança (ex.: Delegacia do Turista).
É também a violência que diminui a cidadania e que acaba por segregar as comunidades e distanciar as classes sociais. Curiosa proteção dada à nova modalidade de cidadão: o cidadão turista (ou cidadão global). Ardilosas políticas de desigualdade e exclusão: desigualdade entre os cidadãos, exclusão dos miseráveis. Ainda, é conhecido o problema do turismo sexual, que coloca nas linhas de produção garotas com menos de 15 anos de idade: a criança pobre transformada em produto e vendida como carne de açougue.
Em contrapartida, não é em qualquer sítio que costuma ficar o "nobre turista europeu"; é preciso muita proteção (repressão policial), o que implica gastos públicos em segurança (ex.: Delegacia do Turista).
É também a violência que diminui a cidadania e que acaba por segregar as comunidades e distanciar as classes sociais. Curiosa proteção dada à nova modalidade de cidadão: o cidadão turista (ou cidadão global). Ardilosas políticas de desigualdade e exclusão: desigualdade entre os cidadãos, exclusão dos miseráveis. Ainda, é conhecido o problema do turismo sexual, que coloca nas linhas de produção garotas com menos de 15 anos de idade: a criança pobre transformada em produto e vendida como carne de açougue.
- A lex mercatoria e o Meio ambiente natural
(Vou comentar apenas um caso: Shopping Center Iguatemi)
A área ambiental do Parque do Cocó é recurso natural escasso e mantido sob a garantia das leis municipais, estaduais e federais de proteção ambiental; ali, a natureza (mangue) vem resistindo contra a cidade e os empreendimentos urbanísticos que ameaçam o espaço natural que ainda resta no Município de Fortaleza.
Foi ali que se instalou o maior shopping center do Estado; os "defensores" do empreendimento argumentam que 40% do espaço natural foi preservado. Mas o que deveriam dizer é: 60% do espaço natural foi destruído. A lógica dos argumentos é crucial para entender o desafio de preservação ambiental. Num Estado brasileiro pobre, qualquer desculpa é válida para que uma pequena parcela da população (a elite burguesa) possa fazer o seu pé-de-meia; quer à custa da população pobre (explorada) quer à custa da natureza (devastada). Passam os anos e a história é a mesma; não precisa ser muito inteligente para perceber que ao redor dos "Reis da Capital" orbita, também, a casta de "ex nobilis": conjugadas as forças do dinheiro e das idéias, criam-se as teorias mais absurdas e os pontos de vista mais imbecis para defender os interesses da pequena elite industrial cearense.
Causa-nos espanto pensar que a natureza esteja submetida à lex mercatoria. Quer dizer, embora, durante anos, tenham-se feito ouvir tantos alertas sobre os riscos envolvidos no uso e ocupação das áreas de preservação ambiental, meia dúzia de empresários de orientação liberal ainda vêem o meio ambiente como produto submetido aos interesses do mercado.
Mais uma vez: estamos diante de um sistema de recursos não-renováveis! O equilíbrio ambiental é muito frágil e uma vez transpostos alguns limites, não há caminho de retorno. Você, cidadão, pense nisso.
A área ambiental do Parque do Cocó é recurso natural escasso e mantido sob a garantia das leis municipais, estaduais e federais de proteção ambiental; ali, a natureza (mangue) vem resistindo contra a cidade e os empreendimentos urbanísticos que ameaçam o espaço natural que ainda resta no Município de Fortaleza.
Foi ali que se instalou o maior shopping center do Estado; os "defensores" do empreendimento argumentam que 40% do espaço natural foi preservado. Mas o que deveriam dizer é: 60% do espaço natural foi destruído. A lógica dos argumentos é crucial para entender o desafio de preservação ambiental. Num Estado brasileiro pobre, qualquer desculpa é válida para que uma pequena parcela da população (a elite burguesa) possa fazer o seu pé-de-meia; quer à custa da população pobre (explorada) quer à custa da natureza (devastada). Passam os anos e a história é a mesma; não precisa ser muito inteligente para perceber que ao redor dos "Reis da Capital" orbita, também, a casta de "ex nobilis": conjugadas as forças do dinheiro e das idéias, criam-se as teorias mais absurdas e os pontos de vista mais imbecis para defender os interesses da pequena elite industrial cearense.
Causa-nos espanto pensar que a natureza esteja submetida à lex mercatoria. Quer dizer, embora, durante anos, tenham-se feito ouvir tantos alertas sobre os riscos envolvidos no uso e ocupação das áreas de preservação ambiental, meia dúzia de empresários de orientação liberal ainda vêem o meio ambiente como produto submetido aos interesses do mercado.
Mais uma vez: estamos diante de um sistema de recursos não-renováveis! O equilíbrio ambiental é muito frágil e uma vez transpostos alguns limites, não há caminho de retorno. Você, cidadão, pense nisso.
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