O último grande reboliço entre os países lusófonos foi causado pela recente proposta (indevidamente qualificada de "acordo") de alteração da língua portuguesa (LEIA MAIS). Não obstante o fato da língua evoluir naturalmente, o que existe por detrás desse artifício (portanto, medida artificial) é, antes de tudo, uma clara demonstração de força da Federação brasileira em relação aos seus países-irmãos lusófonos, que faz parte de um projeto imperialista brasileiro.
Com efeito, no mesmo passo da inclusão do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, caminham as ações de transposições culturais e comerciais brasileiras no estabelecimento de um domínio político não só em África, mas, também, em Portugal. A quem diga que isso é um processo natural da globalização e que não há mal algum nos interesses brasileiros em garantir seu espaço nessa nova conjuntura. Porém, não é que não existam males; a questão é outra. Trata-se da intrusão não só de um elemento cultural alienígena na cultura de outros povos (as novelas, a música, enfim, as artes), trazido pelo intercâmbio natural entre culturas, mas de uma ação deliberada de invasão e transformação das nações receptoras, num processo de localismo globalizado que pouco interage com os comportamentos e práticas dos países receptores. E o mais grave nisso foi o "acordo" para a alteração da língua portuguesa; os bastidores que influenciaram essa adoção são meramente comerciais.
Como é evidente, hoje, existem contra-afirmações identitárias a despontar não só em solo africano, mas em terras lusitanas, que vêm impregnadas de sentimentos nacionalistas e, porque não dizer, xenófobos. Ou seja, na defesa de seus interesses (também comerciais mas, acima de tudo, identitários) esses povos manifestam-se contra uma maior integração entre os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), porque se vêem com menores oportunidades (econômicas) de intervir nesse processo de aproximação. É dessa forma que se pode qualificar as ações brasileiras como decorrentes de um projeto de afirmação imperialista, porque estão presentes todos os elementos conflituais característicos desse tipo de projeto: primeiro, a constatação de uma invasão cultural (com origens mercadológicas); segundo, a resistência que é oferecida pelos povos que se encontram na periferia desse projeto; terceiro, um sentimento de repulsa ao país "invasor"; quarto, a não reflexividade no tocante à abertura do país central em relação às culturas dos povos periféricos, e assim por diante.
Isso nos leva a concluir que esse projeto imperial brasileiro é tanto ou mais grave do que aquele praticado pelos EUA. Ainda, que se diga que esse projeto é, em nível nacional, também um localismo globalizado, que se expressa na preponderância cultural e comercial do eixo Rio de Janeiro/São Paulo, com prejuízo da afirmação cultural e do desenvolvimento econômico dos outros Estados-membros. Não podemos nos esquecer que o Brasil sempre foi um dos maiores ativistas contra os "enlatados culturais" norte-americanos. Agora, fazemos exatamente o mesmo?
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