quarta-feira, 9 de abril de 2008

As perspectivas do novo império

(Por Eduardo Magnani)

Analisando as tendências mundiais e acontecimentos recentes, considero importante um debate mais embasado em torno da China, isto porque talvez estejamos diante do país que em um futuro de médio a longo prazo ocupará o lugar dos Estados Unidos na ordem mundial e acabará por ser o “novo império”.

Obviamente, as chances são enormes de que eu não viva o suficiente para ver os chineses tomarem o lugar dos estadunidenses no palco internacional, inclusive as possibilidades são grandes de que nem mesmo meu filho possa presenciar este acontecimento. Esta afirmação anterior se dá pelo fato de que os Estados Unidos ainda possuem uma posição consolidada no âmbito mundial e tudo indica que sua decadência e desaceleração se darão de forma lenta e gradativa, o que logicamente levará muitos anos até a perda da hegemonia.


Sempre chegará o dia no qual os impérios ruirão, isso aconteceu no passado e não há motivos para acreditar que não ocorrerá no futuro. Vejo dois pontos muito claros para o declínio estadunidense, um deles é a forma pela qual é conduzida a política externa do Estados Unidos, a qual se empenha mais em exportar e forçar o american way of life aos outros povos, buscando assim o estrangulamento das culturas locais. O outro diz respeito à perda do sentimento de nação dos próprios estadunidenses, isto ocorre devido à incidência de dois fatores básicos: o primeiro diz respeito ao fato de que a juventude dos Estados Unidos está dilacerada pelos estímulos consumistas e mergulhada no consumo de drogas, o que acaba por aniquilar os laços familiares e leva à perda da educação de base. O segundo ponto é a política estadunidense em relação aos imigrantes, os quais são considerados cidadãos de “segunda categoria” e estão submetidos a pressões dos mais diversos tipos. Em resumo, não há mais nos Estados Unidos, como já ocorreu no passado deste país, um clima de integração e aceitação dos estrangeiros, assim estes não se sentem como cidadãos do país no qual habitam e assim não criam laços patrióticos.

Posto isto, devo retornar ao assunto levantado no início do texto: a China. Vejo com certa cautela e preocupação a ascensão deste país asiático no cenário mundial, isto porque, a meu ver, a China é um espécie de “caixa fechada”, da qual ainda não podemos ter a real noção do conteúdo que está guardado em seu interior.

Não quero aqui defender os Estados Unidos e seu establishment, mas me parece que não teremos muito o que comemorar quando chegar o dia em que o lugar dos estadunidenses no palco internacional for ocupado pelos chineses, isto porque o status atual da China é uma mistura do que há de pior no capitalismo e no socialismo, formando assim um regime perverso.

Do lado podre do capitalismo, a China forjou seu modelo econômico e assim vem colhendo seus grandes números de crescimento. É importante salientar que o modelo chinês se serve das práticas capitalistas mais nefastas de produção, as quais nos remetem a séculos passados e que tem por base o trabalho escravo, a exploração infantil nas indústrias, a inexistência de garantias trabalhistas, a violação constante dos direitos humanos, entre outras aberrações. Com base nesses expedientes, os chineses vêm consolidando a força de sua economia no mercado mundial e trazendo junto com ela as conseqüências de desastres ambientais e degradação da natureza.

Da parte nociva do socialismo, a China cunhou seu modelo político, praticando assim seu regime ditatorial, no qual não existem o pluripartidarismo, a liberdade de expressão, as garantias de manifestações públicas contrárias ao status quo, a oposição política em nível representativo, entre outras diversas violações de direitos e garantias fundamentais. É com tal modelo que a China conduz sua sociedade, jogando assim uma grande mordaça sobre seus cidadãos.

Não acho que no futuro sentiremos saudades do “império estadunidense” e deve ficar claro que com este texto não tenho a intenção de pregar a manutenção deste, pois os mais diversos abusos foram praticados pelos Estados Unidos da América e não tenho dúvida de que um dia a História julgará este país por suas atrocidades. Por outro lado, é com profunda inquietação que vejo a ascensão da China, pois quando esta vier a se tornar a “grande nação” da ordem mundial, possivelmente estaremos diante de um “império” mais perverso e brutal do que o anterior.

Ficam as idéias para o debate.

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