terça-feira, 27 de novembro de 2007

«Abaixo-assinado contra vídeo racista da TV Globo»

Corre na internet um abaixo-assinado contra um vídeo veiculado no Programa do Jô, da Rede Globo de Televisão. Logo nos primeiros minutos, pode-se assistir à objetivação dos seres humanos ali retratados: no caso, são comentários jocosos e discriminatórios contra a sexualidade de mulheres africanas.


O diálogo do entrevistador com o entrevistado está recheado de trechos ofensivos quer às mulheres quer à suposta "cultura sexual" das mulheres angolanas (sic).
  • Veja algumas expressões utilizadas no bate-papo:
[Comentando a vida sexual da mulher angolana, que começaria aos 06 ou 07 anos de idade, de acordo com o entrevistado:]
Entrevistado:"Ela é velha, (...) vinte e poucos anos, acabada, larga (...)".
(...)
[Rerefindo-se à escultura no cabelo da garota acima:]
Entrevistado: "Aquilo é feito com ugundi, que é leite azedo, mais bosta de boi".
Entrevistador: "Ah!... Isso deve ficar uma delícia".

***

O que incomoda os autores da petição é o fato de que a "entrevista realizada com humor expressou frases racistas metamorforseadas em piadas inocentes que eram abonadas pelos sorrisos e aplausos da platéia". Ainda, os autores da petição ressaltam que "[d]urante a reprodução do referido programa, o entrevistado, incitado pelo apresentador, deteve-se em apresentar detalhes do que denominaram "vida sexual angolana". No relato que faz, vê-se a consagração da idéia de que África e os africanos representam uma civilização homogênea caracterizada pela inferioridade cultural e biológica, legitimando a mentalidade racista sustentada no argumento de que o continente africano, os países africanos, os povos africanos, em particular, a mulher africana são inferiores e que esta inferioridade pode ser comprovada por sua sexualidade animalesca" (itálicos nossos).

Penso que, mesmo que seja possível alguma defesa jurídica da Rede Globo (Judiciário..., jeitinhos... etc...), o que se pode assistir no vídeo é uma brutal mercantilização e uma tacanha ridicularização da cultura do povo angolano; sem o menor pudor, ou sem algum interesse educacional ou de troca de experiências culturais, aquelas fotos são apresentadas ao "muito bem informado" (sic) público brasileiro como a marca registrada de uma nação (nação-irmã, lusófona e com um passado comum ao nosso!). É mais um daqueles episódios em que a "identidade cultural brasileira" tenta aproximar seus valores aos da cultura hegemônica de matriz européia, negando seu passado africano.

Um comentário:

  1. Torquilho,
    assiti ao vídeo algumas vezes, tentando ser o mais imparcial possível.
    Confesso que de início, me pareceu mais uma cena de escárnio no intuito do apresentador se mostrar engraçado e divertir uma platéia.
    Depois, analisando não mais friamente, percebi a gravidade que de fato se mostra naquelas cenas.
    A meu ver, se um determinado povo se veste de uma forma, ou possui hábitos distintos dos nossos, tudo isso serve para construir cada vez mais uma sociedade tolerante e rica.
    Não imagino o porquê de não realizar uma entrevista ridicularizando as danças russas, ou alemãs, ou até mesmo a sensualidade do forró nordestino.
    Não seria uma afronta à cultura de cada povo, cada localidade?
    A liberdade de expressão existe, óbvio, o direito de informar-se e de informar também, o que não deve ser tolerado é a exposição dessas pessoas ao ridículo, em cadeia nacional, por conta de valores próprios e mercantis, traduzidos em pontos de audiência.
    Termino assim: vida, só você me fascina!
    Um forte abraço!

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